Bordado num vestido preto
Se bem que nada foi misturado, e tudo se misturou
A teimosia dos fatos de uma pequena ordem que se formou
Nas esquinas de uma vida que não conheceu vida sem amor
Nas fontes de uma juventude que da velhice nunca reclamou
A crença de um destino bordado num vestido preto
Saliente e comportado na perfeita contradição de seu jeito
Ferozmente desenhado nas alegrias de seu medo
Sobrevivente nas escolas cotidianas que lhe negavam desejos
A guerra que saía de seus sorrisos contagiantes
A paz de que possuía seus ouvidos reconfortantes
Na destreza de um olhar que não viu a sombra do ignorante
Na pureza de amar até mesmo quem se mostrou irritante
A queda de braço de alguém que não faz mal a ninguém
A sobriedade peculiar de quem sabe quem é quem
Sabidamente concentrada em achar quem lhe faça bem
Prática e convencida de só lutar por aquilo que lhe convém
O menosprezo da realidade tão chata que nos cerca
O escuro de uma imagem que de dia não se enxerga
O prezado lampejo cerebral de uma mulher tão esperta
Simples e complicada na medida que não cabe numa linha reta
Na natureza animal tão belo é raridade
E há quem diga que aquele que o viu falta com a verdade
Não conheço relatos de que tal ser viva pela cidade
Só conheço as histórias que eu próprio conto, com muita honestidade