Rapariga
Por onde anda você?
Onde tem ido todas as tardes brandas do fim de verão mediterrâneo?
Tem feito do vento, caneta
e do tempo, papel?
Tem tido tempo para respirar fundo e olhar pro céu?
Conseguiu, por fim, trancar as angústias no baú velho e esquecê-lo no porão de sua casa?
Por onde anda você?
Em quais parques passa?
Guria impetuosamente angustiada ...
Preste bem atenção na folha no chão arrastada, no palpitar suave do seu relógio de pulso, na carência explosiva de um coração expulso... considere tudo uma parte de você!
Considere o grito, o riso, o prazer
Eles são nós e eu e você
Que mania a nossa de deixar estar!
Como se os passeios da cidade ou as luzes em frente ao mar
Fossem substanciais para deixar-se estar
Quase assim, como um irmão que dorme suave
E nós ficamos a olhar
Será que sonha - com o que sonha?
Ou será que ele espera que se ponha
Os dedos, lentos, sobre os cílios
A fim de o acordar?
Por onde anda, rapariga amiga?
Aonde levam seus pés?
Madeira, Açores, Porto Santo?
Inundou o Tejo de tanto pranto?
Jogue no Atlântico uma garrafa
Com a mensagem que achar conveniente
(Espero poder pegar)
Por onde anda a portuguesa
Que encheu de cartas o mundo
E agora um silêncio absurdo
Procura por você!
*** Em homenagem a Andréia Gomes, excelente escritora de Portugal!