ODE A UMA AMIGA (*)
I
Era livre
Depois tornei-me um escravo
Assim tive
De lutar tal como um bravo
Tão somente
Para estar onde já estive
Felizmente
Eu me transformei num cravo
E a rosa
Procurando-a encontrei
Perfumosa
Fez-se para mim a lei
Tão sagrada
Que eu só cumpri-la queria
Na jornada
De meu caminhar dia-a-dia.
II
Fim do dia
Acendi minha lareira
Noite fria
Trouxe-me vento e poeira
Fui à rua
Mas não encontrei viv’alma
Só a lua
Vagando lenta e calma
Lá no céu
De uma noite tão escura
Quando ao léu
No caminho da amargura
Encontrei
Aquela que me esperava
E hoje eu sei
Que sou escravo da escrava.
III
Minha brava
Amiga de horas amargas
Que estava
Disposta a levar-me as cargas
Até aonde
Eu ia sem querer ir
Não se esconde
Lá no incerto porvir
Está perto
De um coração sofredor
Que não quer
Que ninguém jamais maldiga
A mulher
Que agora é minha amiga.
IV
Ninguém diga
Que ainda sigo sozinho
Na cantiga
Por um infindo caminho
Que a sorte
Mostrou-me tão friamente
Pois sou forte
E direi que felizmente
Foi tão bom
Que uma flecha me feriu
Quando ao som
Do meu soluçar partiu
Sem adeus
Aquela que tanto amei
Sob os céus
E da qual me esquecerei.
* Você, que é mulher e me tem como amigo, saiba, ao ler esta poesia, que ela foi, de algum modo, direta ou indiretamente escrita para você.