Manter a Liberdade
Um dia
Quando a grande rede surgiu
Rasguei o papel real
Preferindo o novo
O virtual
Sempre poupava nos selos
E na ansiedade da espera
Tendo a garantia
Dessas palavras serem mais rápidas
E ainda e eternamente secretas
E foi assim
Que as minhas palavras escritas
Passaram a serem mais rápidas
Do que as ditas
Com a vantagem
De te poder dizer coisas
Em tempo real
Que só me poderiam envergonhar
Porque um homem sente-se sempre
Apagado
Quando diz que ama
Dando a ideia
Que essas palavras em vez de juntar
O seu coração
Estão a despedaçar
E assim começou
A nossa estranha história de amor
Em que te dizia
Aquilo
Que mais queria
Em que mexia no fogo
Sem me queimar
Em que depois de leres essas palavras
Lias as mesmas no meu olhar
Sem que os meus lábios
Trocassem a mensagem
Ao neles tropeçar
E eu dava
E tu recebias
E eu não falando
Sabia que tu me ouvias
Até perceber
Que as palavras
Afinal não eram apenas dos dois
Que existia
Mais alguém que as costumava ler
Não por doença
Ou por mania da perseguição
Quem nos lia
Era apenas mais um espião
Que tinha em nós
A sua missão
Não que o que dizíamos
Fosse comprometedor
Para a segurança nacional
Porque o mal exista quando não se ama
O mal nunca vem do amor
Ele vigiava
Tudo
Porque o inimigo dos seus patrões
Não eram bombistas
Ou armas de destruição maciça
O seu inimigo
Era a liberdade
De raciocinar
O seu terror
Era o livro acto de se pensar
E esta é a história
De ter regressado às cartas
À ansiedade
De saber
Quando
As irias receber
Porque todo este sacrifício vale a pena
Sabendo que apenas Tu
As irás ler
Forma antiquada de comunicar
Bem longe da realidade
Da comunicação escrita quase tão rápida como o pensamento
Mas a única de
Manter a Liberdade