Uma pausa
Uma pausa
Faça uma pausa na caminhada,
sente-se aqui comigo
e tome um café.
Ainda há um longo caminho
a ser percorrido que
não exige pressa.
Fale-me de suas crenças,
se em Deus deposita a sua
confiança e que o seu caráter
e valores foram por Ele
moldados.
Diga que só ocasionalmente
usa máscaras e que
o espelho reflete a sua imagem.
Aponte aonde dói a ferida
para que eu possa aplicar
algum balsamo suavizante.
Fale-me dos seus planos,
dos seus desenganos,
de suas mágoas e frustrações.
Quem sabe assim possa eu,
de alguma forma,
aliviar o fardo que é carrega-las.
Fale-me do seu amor,
se há contrapartida ou se não precisa.
Mas se entender inconveniente,
não fale.
Fale dos encontros e dos desencontros,
das perdas e dos ganhos,
das coisas que deixaram marcas
ao longo da jornada.
Fale de suas noites insones,
quando o tempo lhe pareceu inexato
e a solidão lhe fez companhia.
Fale do beijo que não foi dado,
do gesto encolhido,
do abraço que foi mera abstração
mas que mesmo assim valeu.
Mencione os livros que leu,
os poemas que escreveu
e os que ficaram perdidos
em sua volátil memória.
Fale de sua canção preferida,
que não precisa ser cantada
porque está em você impregnada.
Diga das rosas que recebeu,
mesmo as que tinham espinhos,
mas que não negaram o seu perfume.
Se quiser, por um instante
fique em silêncio e permita
que ele apenas revele
o que precisa ser revelado.
Mas se desejar, solte um grito
de libertação.
Exponha toda a sua indignação
ante a frieza dos homens
Depois pode partir.
O tempo esfriou,
o café acabou.
Há um caminho a ser percorrido.
Cubra-o com as flores
das boas lembranças e da gratidão.
Vá com um clarão na face,
a certeza de que a conversa foi boa
e que em nós renasceu a força,
a paixão e o desejo de ainda
viver a vida.