Nóia de classe e lupino
Estava ali nas ultimas
Aquele homem negro sorrindo
Com um dente de ouro,
Envolto num cobertor
Abraçado numa garrafa de pinga
Em baixo da marquise,
Senhor Jose Augusto magro fraco e velho,
Sua barba longa e cabelos compridos,
Tentava dormir ali no relento,
Frio maldito de Curitiba
Seu melhor amigo era lupino
Um cão tão doente quanto ele...
Ambos maltratados pela vida na rua
Ambos traídos no passado,
Jose Augusto pela mulher
Que fugiu levando tudo que era de Jose Augusto
Inclusive seu melhor amigo,
E lupino por seu antigo dono
Que se mudou e na mudança esqueceu
Do amigo canino...
A vida é algo esquisito!
Muitos passavam por ali,
Mas ninguém via Jose augusto...
Nem mesmo o Lupino...
E na noite de 7 de julho,
Lupino morre de velho
E Jose Augusto de cirrose,
Tuberculose, hipotermia e rancor.
Jose Augusto foi um homem de classe,
Em seus bons tempos tivera um sedã preto,
Uma mulher bonita e dinheiro pra gastar,
Dinheiro que comprou inveja,
Mas Jose Augusto...
Foi um nóia de classe, morreu sorrindo,
Sua classe estava no sorriso,
Não por seu dente de ouro...
Mas por morrer sabendo,
Que mesmo ali fudido,
Nessa vida ele teve um amigo,
Seu cão fiel, bravo lupino...
As 3:33 quando o termômetro marcou zero grau em Curitiba apareceu um anjo de asas negras, funcionário exemplar do Deus morte levou suas almas para um lugar mais bonito.