Desculpe-me, mas, não deu desta vez
Desculpe-me, mas, não deu desta vez!
Conheci um homem que se orgulhava de seus amigos.
Dizia o mesmo, alegremente, de sua vida amigueira;
De suas amizades verdadeiras – “a amizade é tudo”
O homem não entendia que na terra nada é definitivo. Dizem que tudo vira pó.
Está no pó a prova do que dizemos ou ouvimos, ou vemos.
O pó é a coisa mais sincera entre os homens.
Nossos amigos em nada diferem do pó. Cada um deles é poeira que vira poeira.
Meus amigos se escondem quando é preciso.
E eu faço a mesma coisa quando eu necessito.
Se tu és um amigo ali é porque eu sou um amigo aqui.
Cada um em seu lugar e a amizade no meio.
O melhor amigo; aquele que parece um irmão, aquele que diz o que não quero escutar é joia rara; é peça de museu, é um ente histórico; é um carro velho na contramão.
Ontem, vi o melhor amigo no centro da cidade.
Ele fazia compras; paquerava as moças; lutava por seus direitos; mas, quando em pé, defronte a prefeitura, o rapaz se calou.
O melhor amigo foi trabalhar no município; aprendeu a lição da repartição.
Ele fez amizade com todos. Dizem que nem o gato escapou.
- Estamos à disposição.
- Ele é tão bom!
- Ela é tão boa!
Nós somos um manancial de bondade;
Nós somos a falta de verdade;
Nós somos a afirmação de toda contradição. O meu espelho reflete uma multidão de faces e eu não conheço nenhuma; eu nego todas elas.
Existe uma face minha que ninguém resiste.
Existe uma face tua que também é minha que ninguém contesta.
Não temos nada escrito na testa!
Não se sabe nada do coração!
“As aparências, ó aparências!”
Nisto eu encontrei muita ciência.
O melhor amigo passou por aqui.
Deixou um bilhete; era um pedido de desculpas:
“Desculpe-me, mas, não deu desta vez!”