OS OLHOS DO GUIA
O velho cego seguia
Com seu velho cão manco
E o cão perguntava ao velho:
Para onde nós vamos?
Mas na fotografia rugosa
Da face do velho
Somente jazia o silêncio
Fazendo mistério.
E o cão não sabia nem mais farejar
E já lhe doía o modo de andar
E o velho fugia do escuro do olhar
E enfim respondia sem desanimar:
Tem que lutar, tem que lutar
Tem que vencer o sofrer do mancar
E farejar, com o olhar
Porque os olhos contemplam o lugar.
Tem que lutar, tem que aguentar
Como um cão sábio ensinando a caçar
Vai me guiar, vai me levar
Para o lugar mais seguro
Onde eu possa ficar.
E nessa, o desfalecer
Na figura do cão
Que tinha que mostrar ao velho
Qual a direção.
E essa aflição porque os olhos
Negrumes do velho
Não viam que o velho cão manco
Também era cego.