OS OLHOS DO GUIA

O velho cego seguia

Com seu velho cão manco

E o cão perguntava ao velho:

Para onde nós vamos?

Mas na fotografia rugosa

Da face do velho

Somente jazia o silêncio

Fazendo mistério.

E o cão não sabia nem mais farejar

E já lhe doía o modo de andar

E o velho fugia do escuro do olhar

E enfim respondia sem desanimar:

Tem que lutar, tem que lutar

Tem que vencer o sofrer do mancar

E farejar, com o olhar

Porque os olhos contemplam o lugar.

Tem que lutar, tem que aguentar

Como um cão sábio ensinando a caçar

Vai me guiar, vai me levar

Para o lugar mais seguro

Onde eu possa ficar.

E nessa, o desfalecer

Na figura do cão

Que tinha que mostrar ao velho

Qual a direção.

E essa aflição porque os olhos

Negrumes do velho

Não viam que o velho cão manco

Também era cego.

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 08/07/2016
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