No último segundo da Terra

Quando pensei

Em que te ver partir

Seria a única forma de ver

O meu mundo ruir

Esqueci-me

Que eras apenas uma das coisas

Que o poderia destruir

Mas esse dia

Ia mesmo a acontecer

Disse o maior dos cientistas

E que nada nos podia salvar

Nem a ciência dele

Nem a ciência dos desesperados

A magia

Ou bruxaria

E eu sem palavras

Não sabia como to dizer

Que era não apenas o meu

Mas o mundo todo

Que ia desaparecer

Porque a única coisa que te poderia consolar

Era saberes

Que quando o dia chegasse

Na tua última madrugada

Eu estaria a teu lado

No momento

Em que fôssemos obliterados

Por um astro vindo do nada

Não nos disseram a hora

E muito menos o dia

Mas eu soube quando ele chegou:

Fez-se noite fora do seu tempo

E chovia, chovia

Como não me recordo de ter chovido

E

No meu desespero

Criei uma ilusão

Que sabia

Que te daria paz

E que te protegeria:

Quando a chuva se tornou mais fortes

E os trovões não deixavam ouvir mais nada

Abracei-te

Criando um escudo em volta de Ti com os meus braços

De uma forma doce

Mas tão firme

Que não ouvias o som de qualquer trovão

Porque o som dele

Era ocupado

Pelo som do meu coração

E foi ele

E a textura da minha pele

Que em contacto com a tua

Tinha tantas histórias guardadas

Que agora poderíamos apenas recordar

Histórias belas

Que te acabaram por acalmar

Histórias de nós

Que não iriam mais continuar

E o tempo

Até o tempo

Acabou por se esgotar

Contigo feliz

Ignorando

Que a tua fortaleza estava a quebrar

Confundindo as minhas lágrimas

Com a chuva

Que não havia forma de acabar

Por isso mergulhaste mais neles

Não tendo visto por isso

A luz forte

Que anunciava a chegada do nosso assassino global

Vindo das profundezas do espaço

Tanto caminho

Apenas para nos fazer mal

Não viste

Não ouviste

Não te deixei sentir

Porque queria apenas que soubesses

Que iríamos juntos

Para o que viesse a seguir

E foi isso

E apenas isso

Que poderias sentir

Naquele segundo

Em que o nosso futuro

Todos os nossos sonhos

Foram transformados em merda

No nosso último e mais belo segundo

No último segundo da Terra

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 19/06/2016
Reeditado em 19/06/2016
Código do texto: T5672030
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.