"O que existe no vazio?"
Um dia
No dia em que te vi mais perdida
No meio de Ti
Das tuas imensas feridas
E de um olhar nublado
Perguntaste-me desesperada
"O que existe no vazio?"
E eu dei-te uma resposta inesperada:
“No vazio
Existem coisas
Existem sempre coisas
Com que o deves preencher
Porque no dia em que deixarem de existir
Esse é o dia da tua morte
Ou em que irás começar a morrer
Porque uma vida
Se pode resumir
A um preencher
Dos espaços sem nada
Vazios
Que cobrimos
Com algo que tenha
Que faça sentido
Algo que quando caídos
Nos faz levantar
Algo que quando perdidos em lágrimas
Nos obriga as lágrimas a enxugar
Para podermos ver o caminho
Por onde iremos continuar
E os meus vazios
Não costumo odiar
Porque são eles
Que as coisas
Aparentemente pequenas
Costumam valorizar
As tais coisas
Que quando perdidos
Nos costumam salvar
Depois do vazio
Por elas
Ter sido preenchido”
E ao ouvires estas palavras
Tal como eu as tinha
Em tempos escutado
O teu olhar
Deixou as nuvens
Onde se deixara apagar
E quando vi nele um raio de luz
Percebi
Que os teus vazios
Te estavam a abandonar
E esta é a história
De como a esta estrada os dois
Viemos parar
Uma estrada
Que parece não ter fim
Nem queremos que o possa ter
Porque se tal vier a acontecer
Significa que encontrámos um vazio
Tão grande
Que nos conseguiu parar
Tão grande
Que por muito que o tentemos
Nunca o conseguiremos tapar...