"O que existe no vazio?"

Um dia

No dia em que te vi mais perdida

No meio de Ti

Das tuas imensas feridas

E de um olhar nublado

Perguntaste-me desesperada

"O que existe no vazio?"

E eu dei-te uma resposta inesperada:

“No vazio

Existem coisas

Existem sempre coisas

Com que o deves preencher

Porque no dia em que deixarem de existir

Esse é o dia da tua morte

Ou em que irás começar a morrer

Porque uma vida

Se pode resumir

A um preencher

Dos espaços sem nada

Vazios

Que cobrimos

Com algo que tenha

Que faça sentido

Algo que quando caídos

Nos faz levantar

Algo que quando perdidos em lágrimas

Nos obriga as lágrimas a enxugar

Para podermos ver o caminho

Por onde iremos continuar

E os meus vazios

Não costumo odiar

Porque são eles

Que as coisas

Aparentemente pequenas

Costumam valorizar

As tais coisas

Que quando perdidos

Nos costumam salvar

Depois do vazio

Por elas

Ter sido preenchido”

E ao ouvires estas palavras

Tal como eu as tinha

Em tempos escutado

O teu olhar

Deixou as nuvens

Onde se deixara apagar

E quando vi nele um raio de luz

Percebi

Que os teus vazios

Te estavam a abandonar

E esta é a história

De como a esta estrada os dois

Viemos parar

Uma estrada

Que parece não ter fim

Nem queremos que o possa ter

Porque se tal vier a acontecer

Significa que encontrámos um vazio

Tão grande

Que nos conseguiu parar

Tão grande

Que por muito que o tentemos

Nunca o conseguiremos tapar...

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 12/05/2016
Reeditado em 12/05/2016
Código do texto: T5633171
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