Amigos são como navios
não escolha os muito pesados, de chumbo e mau-caráter
porque eles afundam em pouco tempo
não escolha os muito leves, de papel e libertinagem
porque o vento adora varrê-los com o espanador
da ironia...
não escolha os aproveitadores
porque são feitos de pedra
não escolha os levianos
porque se descosturam em alto mar
e deixam você a ver navios
afogando-se...
não escolha nunca nunca os sórdidos
(são os piores)
porque se encharcam de lama
cedo ou
mais cedo ainda
e nem o fundo das águas marítimas
com sua extensão infinito fértil
quer suas almas de lodo
não escolha os de ouro e prata
porque são feitos para a venda
e vendem também quem estiver com eles
não escolha os de plumas e paetês
porque são feitos para a quarta-feira
de cinzas
alegóricas...
Amigos são feitos de navio
por sobre cujo pátio vasto e amplidão
se observam - com o sorriso da Monalisa
que seria o mesmo da esfinge? -
falsos navios sendo despedaçados nas rochas
sugados nas ondas
queimando em pleno mar
na fogueira
na fogueira
no fogo inextinguível, afinal,
da Justiça
em sua sentença de Sal!
(VERSÃO FINAL - Do livro: UM JEITO ESTÚPIDO DE SONHAR)