Um poema escrito por uma máquina

Li

Que uma máquina fez algo de extraordinário

Ela começou a escrever poesia

Pensando no que escreve

Deixando de ser um mero dicionário

Ela escreve

Depois de nos ter analisado

Depois de ter lido todos os nossos poemas

E assim

Depois dela começar

Para a sua escrita nunca irá faltar inspiração

E muito menos temas

Poemas feitos em segundos

Feitos à velocidade da luz

A velocidade do tempo que ela demora a pensar

E por isso

Nunca nenhum de nós humanos

Conseguirá alcançar

Os números que ela produz

Mas será apenas isso

Não escrita

Mas apenas números

Porque ela não sente as palavras

Não sente o seu peso

Ou a sua leveza

Não sente

Simplesmente porque não tem alma

A sua “escrita”

Poderá vir a ser muito valorizada

E até vangloriada

Mas para mim

Não valerá nada

Porque o que se escreve

Também se alimenta dos nossos sonhos

Também é feita deles

A sua essência está neles

Porque os sonhos

São um espaço de evasão

De ausência

Que nos permitem

Quer descansar

Quer reflectir

Quer em tranquilidade criar

E ela não escreve

Porque não sente

Não tem a capacidade de sonhar

Ela nunca pára

Nem sequer para pensar

Aquilo que escreve

Nunca terá o calor

Que só lhe pode dar uma alma

E por isso

Por muito que me tentem convencer do contrário

Ela é apenas uma máquina

Apenas mais avançada

E por isso

A sua escrita

Nunca irá valer absolutamente Nada...

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 31/03/2016
Reeditado em 31/03/2016
Código do texto: T5590466
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