Viagens
E assim partimos
Rumo ao nada
Rumo ao desconhecido
E assim partimos
Perdidos
Procurando outras casas
Outros portos de abrigo
E assim partimos
Ao amanhecer
A nossa hora do vazio
A hora em que nos sentíamos sem nada
Esperando
Ficar preenchidos
Nem que fosse
Pelo primeiro sol da alvorada
E assim partimos
Como vampiros
Que durante o dia
Se consumiam a si próprios
Procurando algum conforto na escuridão
Procurando no nada da noite
Algum descanso
Procurando para as mágoas do dia
Algum tipo de consolação
E assim partimos
Como refugiados de uma terra queimada
Terra que fôramos nós a incendiar
E por isso partimos
Para não mais regressar
Mas também partimos
Pela pura necessidade de viajar
Porque nos sentíamos a morrer
Quando éramos obrigados a parar
Mais do que um tempo breve
Num qualquer lugar
Porque para sobrevivermos
Tínhamos de nos alimentar
De novas paisagens
Que nunca se poderiam repetir
E assim partimos
Sabendo no início das nossas viagens
Que não tínhamos realmente para onde ir
Partimos como vampiros
Procurando disfarçar
Que éramos apenas humanos
Que não se conseguiam saciar
Com o que nos devia fazer felizes:
Com a vida de todos os dias
Com o que tinham conseguido alcançar
Por isso
Seriamos apenas felizes
Na linha do horizonte
À qual
Por muito que viajássemos
Nunca iríamos chegar...