Viagens

E assim partimos

Rumo ao nada

Rumo ao desconhecido

E assim partimos

Perdidos

Procurando outras casas

Outros portos de abrigo

E assim partimos

Ao amanhecer

A nossa hora do vazio

A hora em que nos sentíamos sem nada

Esperando

Ficar preenchidos

Nem que fosse

Pelo primeiro sol da alvorada

E assim partimos

Como vampiros

Que durante o dia

Se consumiam a si próprios

Procurando algum conforto na escuridão

Procurando no nada da noite

Algum descanso

Procurando para as mágoas do dia

Algum tipo de consolação

E assim partimos

Como refugiados de uma terra queimada

Terra que fôramos nós a incendiar

E por isso partimos

Para não mais regressar

Mas também partimos

Pela pura necessidade de viajar

Porque nos sentíamos a morrer

Quando éramos obrigados a parar

Mais do que um tempo breve

Num qualquer lugar

Porque para sobrevivermos

Tínhamos de nos alimentar

De novas paisagens

Que nunca se poderiam repetir

E assim partimos

Sabendo no início das nossas viagens

Que não tínhamos realmente para onde ir

Partimos como vampiros

Procurando disfarçar

Que éramos apenas humanos

Que não se conseguiam saciar

Com o que nos devia fazer felizes:

Com a vida de todos os dias

Com o que tinham conseguido alcançar

Por isso

Seriamos apenas felizes

Na linha do horizonte

À qual

Por muito que viajássemos

Nunca iríamos chegar...

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 19/01/2016
Reeditado em 19/01/2016
Código do texto: T5516061
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