À (tua)procura
Do concreto
Do substrato
À procura
Não só das tuas palavras
Mas do teu tacto
Não me satisfazendo com a pele
Só ficando tranquilo
Quando alcançar o teu interior
Sabendo
Que uma das primeiras coisas
Que lá irei encontrar
Será a dor
Sabendo também
Que mais nada és capaz de ver
Em teu redor
Mas não desisto
Até encontrar
O teu ser que amo
Mas que persistes em negar
O ser que não me deixou afogar
Quando lutava contra a tempestade
Que não me deixou desistir
Quando me quiseram calar
O ser que me mostrou a terra
Quando estava perdido no mar
Um ser feito de substância
Numa época em que se faz o culto do vazio
Um ser feito de concreto
Em tempos onde predomina
A inconsistência
Um ser que mesmo assim
Não se esconde
Mostra a sua presença
E sim
Sei que existes
E tu também o saberás
Basta que para isso
Esse ser voltes a encontrar
Quando permitires
Que a ternura
Cubra as tuas feridas
Eu sei que existes
E sei que voltarás
Porque tudo deixará de fazer sentido
Se deixares esse ser naufragar
No mesmo tipo de vagas
Que impediste
Que com elas me pudessem levar
E quando ele vier do limbo
Quero que saibas
Que nunca desisti
E que ainda estou por cá
À espera
Do dia em que esse ser
Ressuscitará