A queda de um anjo

Que era mais um nome

Que me costumavas chamar

Antes de ter deixado

As minhas asas queimar

Não por me ter aproximado demasiado de Ti

Porque não tinha o feitio de um Ícaro

Mas por ter deixado de Te Observar

Não

Não era a encarnação de Narciso

Não gostava de só a mim me contemplar

Era o mundo inteiro

E por tanto o ver

Para Ti

Deixei de voar

Assumindo então a minha condição de mortal

Porque contigo

Iria viver até ao fim da nossa eternidade

E quando as asas já não me serviam

Comecei a envelhecer como o resto da humanidade

Comecei nessa altura a sentir o peso do tempo

Que não sentia

Na tua companhia

Claro as rugas apareciam

Mas ao vê-las

Encarava-as apenas

Como parte da tua magia

Porque não me fazias sentir as minhas

Era o mesmo sempre

E tudo estava sempre igual

Até ao dia

Em que deixaste de ser O Elemento

Da minha paisagem

Passaste a ser apenas mais uma figurante

Na peça da minha vida

Ao invés da personagem principal

E por isso

Passaste a ser banal

Nesse dia o tempo avançou

Mas foi nesse dia

Em que o meu coração parou

O dia em que não parecendo

O mundo mudou

O dia da tua partida

Em que embora sabendo

Deixei de saber quem eu sou…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 29/10/2015
Reeditado em 29/10/2015
Código do texto: T5431439
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