A queda de um anjo
Que era mais um nome
Que me costumavas chamar
Antes de ter deixado
As minhas asas queimar
Não por me ter aproximado demasiado de Ti
Porque não tinha o feitio de um Ícaro
Mas por ter deixado de Te Observar
Não
Não era a encarnação de Narciso
Não gostava de só a mim me contemplar
Era o mundo inteiro
E por tanto o ver
Para Ti
Deixei de voar
Assumindo então a minha condição de mortal
Porque contigo
Iria viver até ao fim da nossa eternidade
E quando as asas já não me serviam
Comecei a envelhecer como o resto da humanidade
Comecei nessa altura a sentir o peso do tempo
Que não sentia
Na tua companhia
Claro as rugas apareciam
Mas ao vê-las
Encarava-as apenas
Como parte da tua magia
Porque não me fazias sentir as minhas
Era o mesmo sempre
E tudo estava sempre igual
Até ao dia
Em que deixaste de ser O Elemento
Da minha paisagem
Passaste a ser apenas mais uma figurante
Na peça da minha vida
Ao invés da personagem principal
E por isso
Passaste a ser banal
Nesse dia o tempo avançou
Mas foi nesse dia
Em que o meu coração parou
O dia em que não parecendo
O mundo mudou
O dia da tua partida
Em que embora sabendo
Deixei de saber quem eu sou…