Abismos
Enquanto te observava a mergulhar na escuridão
Sem que o pudesse evitar
“Escuridão”
Palavra menos sinistra
Que usei
Para substituir a expressão
“Queda nos teus abismos”
A única coisa que podia fazer
Era desejar
Que deles
Pudesses voltar
Observar com um sentimento de impotência
De raiva
Dirigida a mim
Porque de tanto pensar
Em como o podia fazer
Não te podia ajudar
Mesmo sendo as quedas recorrentes
Culpava-me
Por não conseguir aprender
A ler os sinais
Que emitias
Quando para os abismos começavas a olhar
E a deixar-te por eles seduzir
Pois apesar de teres tantos lugares
Naqueles momentos
Julgavas
Que só a eles te poderias dirigir
Mas será que a culpa era minha?
Será que precisavas das quedas
Para sentires
A ascensão
Posterior
Esse sentir
Que te devolvia a redenção
Pelo que tinhas feito
Ou que tinhas deixado por fazer
Coisas menores
Mas que te estavam a matar
Ao ponto
De nesses abismos
Precisares de mergulhar
Mas sabes
A poesia serve para imensa coisa
Para as nossas dores podermos disfarçar
Em palavras que atribuímos a outros
Quando revelam o que somos
Revelam as nossas feridas
E assim eu te quero agradecer
Porque sinto o teu amparo
Quando estou a cair
E quando estou no fundo desses abismos
Volto
Para os teus braços
Porque Tu
E eles
São os únicos locais
Por onde realmente eu quero ir…