Abismos

Enquanto te observava a mergulhar na escuridão

Sem que o pudesse evitar

“Escuridão”

Palavra menos sinistra

Que usei

Para substituir a expressão

“Queda nos teus abismos”

A única coisa que podia fazer

Era desejar

Que deles

Pudesses voltar

Observar com um sentimento de impotência

De raiva

Dirigida a mim

Porque de tanto pensar

Em como o podia fazer

Não te podia ajudar

Mesmo sendo as quedas recorrentes

Culpava-me

Por não conseguir aprender

A ler os sinais

Que emitias

Quando para os abismos começavas a olhar

E a deixar-te por eles seduzir

Pois apesar de teres tantos lugares

Naqueles momentos

Julgavas

Que só a eles te poderias dirigir

Mas será que a culpa era minha?

Será que precisavas das quedas

Para sentires

A ascensão

Posterior

Esse sentir

Que te devolvia a redenção

Pelo que tinhas feito

Ou que tinhas deixado por fazer

Coisas menores

Mas que te estavam a matar

Ao ponto

De nesses abismos

Precisares de mergulhar

Mas sabes

A poesia serve para imensa coisa

Para as nossas dores podermos disfarçar

Em palavras que atribuímos a outros

Quando revelam o que somos

Revelam as nossas feridas

E assim eu te quero agradecer

Porque sinto o teu amparo

Quando estou a cair

E quando estou no fundo desses abismos

Volto

Para os teus braços

Porque Tu

E eles

São os únicos locais

Por onde realmente eu quero ir…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 17/10/2015
Código do texto: T5417506
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