Vazios
Já repararam
Que somos incapazes de viver no
E com o vazio
Procurando pessoas
Para preencher
O que não pode voltar a ser preenchido?
Porque se uma pessoa partiu
E um vazio insustentável deixou
Essa pessoa era única
E tal como ela nunca irá ser substituída
Esse vazio irá sempre existir
Jamais será curada essa ferida
Embora fiquemos com a ilusão
Que a ferida curou
Esquecendo-nos que alguém quando parte
Nunca mais regressará
E o vazio
É a marca perene que esse alguém
Em nós deixará
E nessa tentativa de preencher vazios
Rodeamo-nos de bens materiais
Para ocultar as nossas lacunas afectivas
Procuramos por vezes o afecto
Quando o que queríamos mais
Era um determinado objecto
E tudo isto para quê?
Porque os vazios são o nosso maior fantasma
Demasiado grande
E poderoso para ser exorcizado
Ou porque
Instintivamente
Sentimos
Que o vazio representa um frio interior
E nós
Como espécie
Sabemos que os humanos
São incapazes de viver
Sem um pouco de calor?
Não serão então
Certas pessoas
Objectos
Religiões
Ideias e ideologias
Uma forma de nos mantermos aquecidos?
Para nos iludirmos
Que não conseguimos esquecer
Quem deve ser esquecido?
Ou não se resumirá esta questão existencial
A mera química
Que um cientista
E não um filosofo
Ou um poeta
Conseguirá explicar?
Ou então estou completamente enganado
E este poema
É apenas mais uma das formas que arranjei
Para o teu vazio disfarçar…?