Vazios

Já repararam

Que somos incapazes de viver no

E com o vazio

Procurando pessoas

Para preencher

O que não pode voltar a ser preenchido?

Porque se uma pessoa partiu

E um vazio insustentável deixou

Essa pessoa era única

E tal como ela nunca irá ser substituída

Esse vazio irá sempre existir

Jamais será curada essa ferida

Embora fiquemos com a ilusão

Que a ferida curou

Esquecendo-nos que alguém quando parte

Nunca mais regressará

E o vazio

É a marca perene que esse alguém

Em nós deixará

E nessa tentativa de preencher vazios

Rodeamo-nos de bens materiais

Para ocultar as nossas lacunas afectivas

Procuramos por vezes o afecto

Quando o que queríamos mais

Era um determinado objecto

E tudo isto para quê?

Porque os vazios são o nosso maior fantasma

Demasiado grande

E poderoso para ser exorcizado

Ou porque

Instintivamente

Sentimos

Que o vazio representa um frio interior

E nós

Como espécie

Sabemos que os humanos

São incapazes de viver

Sem um pouco de calor?

Não serão então

Certas pessoas

Objectos

Religiões

Ideias e ideologias

Uma forma de nos mantermos aquecidos?

Para nos iludirmos

Que não conseguimos esquecer

Quem deve ser esquecido?

Ou não se resumirá esta questão existencial

A mera química

Que um cientista

E não um filosofo

Ou um poeta

Conseguirá explicar?

Ou então estou completamente enganado

E este poema

É apenas mais uma das formas que arranjei

Para o teu vazio disfarçar…?

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 07/09/2015
Reeditado em 07/09/2015
Código do texto: T5373978
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