AS DORES DE UM ANJO

AS DORES DE UM ANJO

Jorge Linhaça

As dores de um anjo acontecem

quando o semelhante é atingido

quando o mal é assim consentido

e as consciências se entorpecem

Flageladas almas inocentes

no descaso cruel do dia a dia

choram crianças de barrigas vazias

enquanto outros passam indiferentes

Morre um anjo a cada dia passado

morre de angústia e de decepção,

morre à mingua de cada emoção,

em cada coração hoje petrificado.

Não mais anjos, adeus proteção,

adeus acordes de amor e paz,

e a multidão sepultada jaz

escrava consentida de sua ambição.

Morre um anjo, silenciam as trombetas,

menos uma voz de alerta, um atalaia,

e a inimizade pelo mundo se espalha

e as mentes se fazem mais estreitas.

Morre o anjo no peito de alguém,

a inocência se perde em agonia,

morre um anjo, um arauto a cada dia,

morre crucificado em pregos de desdém.

Dores e prantos sacodem os céus,

apaga-se a luz da alma bendita,

crescem as trevas de nossa desdita

caminhamos um pouco mais ao léu.

Quando o último anjo enfim expirar,

que será da incauta humanidade?

onde encontrará a luz e verdade,

para a senda da vida trilhar ?