Somos ridículos
Não quando dizemos aquilo que sentimos
Mas antes
Quando aquilo que sentimos omitimos
Ridículos
Não quando descrevemos
O peso
Que em nós tem cada sensação
Ridículos sim
Quando limitamos
A nossa capacidade de expressão
Ridículos
Quando negamos
Querer saber o que diz o nosso olhar
Ridículos
Não
Quando olhando-nos nos olhos
Dizemos em simultâneo
“Que é contigo que eu quero ficar”
Somos ridículos
Quando preferimos falar de dor
Em vez de irmos para o lugar comum
Algo confrangedor
Porque custa tanto
Tanto lá chegar
Um espaço
Bem perto de nós
Mas tão difícil de alcançar
Um lugar
Que alcançamos
Quando falamos de amor
Uma mistura de via-sacra
Com paraíso
Um caminho
Tanto cheio de rosas
Como cheio de espinhos
Mas seremos ridículos
Se nos recusarmos
Essa via a percorrer
Com receio
Que possa vir a doer
Esquecendo-nos
Que no fim dela
Está quem amamos
Para nos receber…