O fim da (nossa) guerra

Li em tempos:

“Não há nada mais silencioso do que um canhão carregado”

Julguei ser uma mera tolice

Quando tempos depois

Desejei que ele tivesse sido disparado

Sem aquela pausa enervante

Que nos faz tanto pensar

Demasiado

No que se vai seguir

Nos instantes que se seguiriam ao seu troar

Desejei

Ter sido atingido

Mal o tivesse avistado

Porque a espera aumentou também o medo

Do tipo de munição que me iria alvejar

A espera impediu-me de agir

Impediu-me de pensar

Porque não queria estar ali

Naquele momento

Mas sim num qualquer outro lugar

Foi no pior dos dias

O dia em que por fim decidiste falar

Decidiste verbalizar

O que ambos sabíamos nos estar a matar

Sabíamos bem os dois

O que se iria seguir

Não no momento seguinte

Mas depois

Faltando no entanto

Aquele derradeiro gesto de compaixão

Aquele cerimonial

Onde irias dizer que o nosso bem

Já não compensava o nosso mal

Aquelas últimas palavras

Nada doces

Mas bem amargas

Palavras que iriam selar o nosso destino

Incerto

Sendo a única certeza

Que não te teria comigo

Palavras que tardavam a serem ditas

Enquanto arranjavas coragem para elas

Olhando-me em silêncio

E aprofundando assim as nossas feridas

Um silêncio duro

Que parecia não mais acabar

Até que por fim disseste

Que irias partir

Para não mais voltar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 13/07/2015
Código do texto: T5309108
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