O fim da (nossa) guerra
Li em tempos:
“Não há nada mais silencioso do que um canhão carregado”
Julguei ser uma mera tolice
Quando tempos depois
Desejei que ele tivesse sido disparado
Sem aquela pausa enervante
Que nos faz tanto pensar
Demasiado
No que se vai seguir
Nos instantes que se seguiriam ao seu troar
Desejei
Ter sido atingido
Mal o tivesse avistado
Porque a espera aumentou também o medo
Do tipo de munição que me iria alvejar
A espera impediu-me de agir
Impediu-me de pensar
Porque não queria estar ali
Naquele momento
Mas sim num qualquer outro lugar
Foi no pior dos dias
O dia em que por fim decidiste falar
Decidiste verbalizar
O que ambos sabíamos nos estar a matar
Sabíamos bem os dois
O que se iria seguir
Não no momento seguinte
Mas depois
Faltando no entanto
Aquele derradeiro gesto de compaixão
Aquele cerimonial
Onde irias dizer que o nosso bem
Já não compensava o nosso mal
Aquelas últimas palavras
Nada doces
Mas bem amargas
Palavras que iriam selar o nosso destino
Incerto
Sendo a única certeza
Que não te teria comigo
Palavras que tardavam a serem ditas
Enquanto arranjavas coragem para elas
Olhando-me em silêncio
E aprofundando assim as nossas feridas
Um silêncio duro
Que parecia não mais acabar
Até que por fim disseste
Que irias partir
Para não mais voltar…