Sobre as nossas feridas
Tão profundas
Que eram carne viva
Deixámos a pele crescer
Com tal vigor
Que passou a ser difícil as contemplar
As recordar
E por isso as feridas se tornaram uma memória
Que já não nos podia incomodar
Sobre as nossas ruínas
Erguemos uma nova civilização
Feita do pó
Das nossas cinzas
Sobre os nossos sonhos desfeitos
Construímos novos sonhos
Tão numerosos
Que nos podiam voltar a ferir
Nos podiam voltar a destruir
Porque para cada chaga
Cada pedaço de cinza
Existiriam mil sonhos
Que os iriam substituir
E assim
Quando nos vissem tombados
Ignoravam
Que não estávamos derrotados
Estávamo-nos a erguer
De uma forma que eles não conseguiam
Nunca conseguiriam ver
E assim
No último dos dias
Seríamos nós
E não eles
A prevalecer…