Sobre as nossas feridas

Tão profundas

Que eram carne viva

Deixámos a pele crescer

Com tal vigor

Que passou a ser difícil as contemplar

As recordar

E por isso as feridas se tornaram uma memória

Que já não nos podia incomodar

Sobre as nossas ruínas

Erguemos uma nova civilização

Feita do pó

Das nossas cinzas

Sobre os nossos sonhos desfeitos

Construímos novos sonhos

Tão numerosos

Que nos podiam voltar a ferir

Nos podiam voltar a destruir

Porque para cada chaga

Cada pedaço de cinza

Existiriam mil sonhos

Que os iriam substituir

E assim

Quando nos vissem tombados

Ignoravam

Que não estávamos derrotados

Estávamo-nos a erguer

De uma forma que eles não conseguiam

Nunca conseguiriam ver

E assim

No último dos dias

Seríamos nós

E não eles

A prevalecer…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 09/07/2015
Reeditado em 09/07/2015
Código do texto: T5305236
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