Vende (te)
Vende
Vende tudo
Vende a tua alma
Vende a tua casa
Vende a prenda
Que te deram
Para que ela fosse estimada
De nada interessa
Que quando a vês essa pessoa possas recordar
A pessoa escolheu-te a dedo
Mas vende
Porque ela já morreu
E certamente não se irá importar
Vende o que te dá afecto
Para teres dinheiro para gastar
Em coisas das quais
Passados uns segundos
Já não te irás lembrar
Vende
Vende a memória
Vive para o material
Porque ele e só ele
É real
Vende
Venera a superficialidade
Faz o culto do inútil
Vive no presente
Vive na realidade
Coloca um preço em tudo
Não te prendas a nada
Porque só serás feliz
Se venderes
Se comprares tudo
A um ritmo tal
Que mal consegues respirar
Vende
Pois isso faz-te viver
E as memórias só te podem matar
Vende
Vende-te
Não resistas
Deixa-te dominar
Vende
Para quando morreres
Nada deixares
Vende
Para quando morreres
Ninguém te possa recordar
Vende-te
Nota:
Este poema surgiu da seguinte constatação: existem imensos programas onde se apela a que se venda tudo, pelos motivos mais fúteis, são programas de lojas de penhores, são programas de antiquários que procuram fazer negócio com pessoas que por motivos da treta vendem muitas vezes bens que são heranças familiares...Ora não é inocente a proliferação de programas destes, pois quando se mentaliza as pessoas para venderem tudo, para não se prenderem a nada, tornam-se as pessoas mais superficiais, especialmente quando nem sequer a memória é estimada...E todos nós sabemos que pessoas ocas são mais facilmente dominadas...