Vende (te)

Vende

Vende tudo

Vende a tua alma

Vende a tua casa

Vende a prenda

Que te deram

Para que ela fosse estimada

De nada interessa

Que quando a vês essa pessoa possas recordar

A pessoa escolheu-te a dedo

Mas vende

Porque ela já morreu

E certamente não se irá importar

Vende o que te dá afecto

Para teres dinheiro para gastar

Em coisas das quais

Passados uns segundos

Já não te irás lembrar

Vende

Vende a memória

Vive para o material

Porque ele e só ele

É real

Vende

Venera a superficialidade

Faz o culto do inútil

Vive no presente

Vive na realidade

Coloca um preço em tudo

Não te prendas a nada

Porque só serás feliz

Se venderes

Se comprares tudo

A um ritmo tal

Que mal consegues respirar

Vende

Pois isso faz-te viver

E as memórias só te podem matar

Vende

Vende-te

Não resistas

Deixa-te dominar

Vende

Para quando morreres

Nada deixares

Vende

Para quando morreres

Ninguém te possa recordar

Vende-te

Nota:

Este poema surgiu da seguinte constatação: existem imensos programas onde se apela a que se venda tudo, pelos motivos mais fúteis, são programas de lojas de penhores, são programas de antiquários que procuram fazer negócio com pessoas que por motivos da treta vendem muitas vezes bens que são heranças familiares...Ora não é inocente a proliferação de programas destes, pois quando se mentaliza as pessoas para venderem tudo, para não se prenderem a nada, tornam-se as pessoas mais superficiais, especialmente quando nem sequer a memória é estimada...E todos nós sabemos que pessoas ocas são mais facilmente dominadas...

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 13/06/2015
Reeditado em 13/06/2015
Código do texto: T5275630
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