A imortalidade do nosso olhar
Todos envelhecemos
Tudo em nós tende a envelhecer
Porque uma lei não escrita do universo
Determina
Que tudo o que nasce
Um dia tem que morrer
Tudo do que somos feitos
Tudo do que somos constituídos
Nasce
Floresce
E começa a secar
Até ao momento
Em que o nosso coração
Tiver que parar
Tudo menos os nossos olhos
Que se mantêm iguais
Apenas se limitam a crescer
E assim ficam
Sem sequer se embaciarem
Assim ficam
Até ao dia do nosso evanescer
E para tal
Não consigo arranjar uma explicação
Excepto esta
A que muitos poderão achar
Não um facto real
Mas uma mera invenção
A imortalidade do nosso olhar
Deve-se
Porque os olhos tudo observam
E por isso tudo devem conservar
Para o que vivemos
Todas as nossas sensações
Sentimentos
Nascidos daquilo que os olhos nos permitiram observar
Não se percam
Porque se tal acontecer
Quase tudo perde sentido
Quase tudo perde lógica
Pelo monumental desperdício
Assim
Os olhos mantêm-se invulneráveis
À passagem do tempo
Para que quando tudo acabar
Lá para onde formos
Tudo o que vivemos
Com eles os olhos possam levar
Mera conservação de energia
“Na natureza nada se perde, tudo se transforma”
E para quê
Para onde?
Não sei
E muito menos o consigo imaginar
Porque se o soubesse
Se soubesse o maior de todos os enigmas
A todos
O iria revelar…