A noite de todos os medos
A noite onde os olhares pareciam facas
Por tanto nos observar
Onde antes de saber para o que vinham
Só sabíamos deles
Que eles nos podiam magoar
A noite onde os gestos
Mal vistos pela escuridão
Só podiam serem obstáculos
Gestos
Da mais cruel agressão
A noite
Onde a respiração apressada
Só podia significar
Que estávamos em perigo
E que não podíamos baixar a nossa guarda
E foi então que os olhares disseram o que queriam de nós
E depois de os ouvirmos
Nunca mais nos voltámos a sentirmo-nos sós
Onde vimos para além das trevas
Percebendo que esses gestos só podiam ser de carinho
Gestos que não nos impediriam de seguir
Mas antes iriam mostrar
Um comum
E pacífico caminho
Que a respiração era rápida
Porque o tempo se arrastou
Até ela se fundir com a nossa
De tal ordem que seria impossível ouvir
Nada mais do que o nosso
Comum sentir
Sim
Foi a noite de todos os medos
Mas o maior deles
É que essa noite pudesse acabar
Porque foi nessa noite
Que estando perdidos
Acabámos por nos achar