A noite de todos os medos

A noite onde os olhares pareciam facas

Por tanto nos observar

Onde antes de saber para o que vinham

Só sabíamos deles

Que eles nos podiam magoar

A noite onde os gestos

Mal vistos pela escuridão

Só podiam serem obstáculos

Gestos

Da mais cruel agressão

A noite

Onde a respiração apressada

Só podia significar

Que estávamos em perigo

E que não podíamos baixar a nossa guarda

E foi então que os olhares disseram o que queriam de nós

E depois de os ouvirmos

Nunca mais nos voltámos a sentirmo-nos sós

Onde vimos para além das trevas

Percebendo que esses gestos só podiam ser de carinho

Gestos que não nos impediriam de seguir

Mas antes iriam mostrar

Um comum

E pacífico caminho

Que a respiração era rápida

Porque o tempo se arrastou

Até ela se fundir com a nossa

De tal ordem que seria impossível ouvir

Nada mais do que o nosso

Comum sentir

Sim

Foi a noite de todos os medos

Mas o maior deles

É que essa noite pudesse acabar

Porque foi nessa noite

Que estando perdidos

Acabámos por nos achar

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 22/04/2015
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