O sublimar das nossas feridas

É estranho elogiar

Aquilo que nos magoa

E que nos pode até matar

Mas não é desse tipo de chagas

Que venho aqui falar

Falo então

Da regeneração

Daquele género

Que permite à Terra tapar

Uma cratera

Por muito grande que ela seja

E com o tempo

Ela não será mais do que uma distante recordação

Falo pois de recomeçar

Da nossa capacidade

Em curar

Falo

Do fim

De termos capacidade em o adiar

E tal como a Terra

Quando feridos

A ferida não iremos ficar parados

Uma eternidade para ela a olhar

Plantaremos sobre ela

Algo de que nos possamos orgulhar

Ergueremos uma estrada sobre ela

E sobre ela iremos continuar

E tal como a Terra

Encheremos esse buraco com água

As nossas lágrimas

E com tempo

A nossa paciência

Mas sobretudo

Com a nossa fé

Que fará

Que as dores

Sejam algo distante

Que iremos

Apenas recordar

Porque se aquilo que somos

É a soma

De tudo o que nos aconteceu

Quer seja bom

Quer seja mau

Temos sempre que nos recordar

Que maior do que essa cratera

É a nossa vida

Que devemos encher de estradas

Para nunca deixarmos de andar

E darmos graças a ela

Porque nos permite também

O sublimar das nossas feridas

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 17/03/2015
Reeditado em 17/03/2015
Código do texto: T5172804
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