O sublimar das nossas feridas
É estranho elogiar
Aquilo que nos magoa
E que nos pode até matar
Mas não é desse tipo de chagas
Que venho aqui falar
Falo então
Da regeneração
Daquele género
Que permite à Terra tapar
Uma cratera
Por muito grande que ela seja
E com o tempo
Ela não será mais do que uma distante recordação
Falo pois de recomeçar
Da nossa capacidade
Em curar
Falo
Do fim
De termos capacidade em o adiar
E tal como a Terra
Quando feridos
A ferida não iremos ficar parados
Uma eternidade para ela a olhar
Plantaremos sobre ela
Algo de que nos possamos orgulhar
Ergueremos uma estrada sobre ela
E sobre ela iremos continuar
E tal como a Terra
Encheremos esse buraco com água
As nossas lágrimas
E com tempo
A nossa paciência
Mas sobretudo
Com a nossa fé
Que fará
Que as dores
Sejam algo distante
Que iremos
Apenas recordar
Porque se aquilo que somos
É a soma
De tudo o que nos aconteceu
Quer seja bom
Quer seja mau
Temos sempre que nos recordar
Que maior do que essa cratera
É a nossa vida
Que devemos encher de estradas
Para nunca deixarmos de andar
E darmos graças a ela
Porque nos permite também
O sublimar das nossas feridas