Malimenca do Avesso

Nunca mais vi o Malimenca, vivendo em distância há anos....

Última vez? Deixei um aceno de mãos

para sua visão captar

entre a cabeleira escura e espessa.

Malimenca é um caso extremo

de homem devoto e calado. Sofrido.

Um relógio não o difere, suíço, sempre de pé às sete.

Na solidão do seu espaço pouco, aquele que lhe cedem,

lava sua louça, sua roupa e prepara seu café,

preto, coado no pano.

Corre todas as datas, na calçada, faça o tempo que for,

cuida dos músculos, seu corpo é seu templo

e este guarda sua alma e salvação,

e religiosamente prepara seu almoço.

Ele é um homem de cozinha.

Malimenca vai ao culto todo sábado a noite

encaixado no seu terno e segurando seus versículos,

como todo aquele que ora não perde a fé numa melhora,

quer deixar de vender latas, melhorar de bicicleta,

quem sabe ser hábil num ofício,

quiçá domar um instrumento e tirar som de suas mãos.

Taciturno, conserta coisas,

panelas, paredes, canos e fiações.

Seus poucos bens são ferramentas.

Malimenca é um homem

que nunca saiu de seu quarteirão

e seu mundo todo é esse quadrado em questão.

Dizem que a ignorância é uma bênção...

abençoado seja o Malimenca.

* Ao amigo de longa data, Érike Marinho

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 07/12/2014
Reeditado em 06/07/2018
Código do texto: T5061872
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