No dia em que o tempo parou

Sempre desejei que o tempo pudesse parar

Não por capricho

Mas apenas porque com ele assim

Tudo de uma maneira diferente poderia observar

Mas um dia ao acordar

Vi que o relógio

Estava parado

Mas não poderia ser uma avaria

Porque ele era digital

E não analógico

E as horas não se tinham apagado

Algo de passava

Algo fora de vulgar

Que percebi o que era

Porque ao ver o céu

Vi que as nuvens não se moviam

Teimavam em estar no mesmo lugar

Vi os pingos da chuva suspensos

E o tempo parado

Foi a única explicação

Que consegui encontrar

E então se assim era

O mundo iria observar

Tendo o cuidado

De tudo fotografar

Porque quando tudo voltasse ao normal

Ninguém em mim iria acreditar

As cidades

Em si não são interessantes

Prédios

E jornais parados no ar

E pouco mais

Nada de relevante

Que me pudesse encantar

Fui então ao campo

Cheio de milhões de pontos de todas a cores

Pendurados no ar

Que não eram mais

Do que as pétalas das flores

Vi diamantes

Em igual estado de suspensão

Diamantes

Que avivaram a minha imaginação

Mas que não eram mais

Do que gotas de água

Das fontes

Dos riachos

Dos rios

Beijados pelo sol

Uma maravilha

Que só pude admirar

Porque o tempo

Se recusara a avançar

E vi muito mais coisas

Que demorariam uma eternidade a revelar

Podia mostrar as fotos

Mas não as cheguei a tirar

Porque como o tempo parou

Ela se recusou a funcionar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 06/10/2014
Código do texto: T4989381
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