No dia em que o tempo parou
Sempre desejei que o tempo pudesse parar
Não por capricho
Mas apenas porque com ele assim
Tudo de uma maneira diferente poderia observar
Mas um dia ao acordar
Vi que o relógio
Estava parado
Mas não poderia ser uma avaria
Porque ele era digital
E não analógico
E as horas não se tinham apagado
Algo de passava
Algo fora de vulgar
Que percebi o que era
Porque ao ver o céu
Vi que as nuvens não se moviam
Teimavam em estar no mesmo lugar
Vi os pingos da chuva suspensos
E o tempo parado
Foi a única explicação
Que consegui encontrar
E então se assim era
O mundo iria observar
Tendo o cuidado
De tudo fotografar
Porque quando tudo voltasse ao normal
Ninguém em mim iria acreditar
As cidades
Em si não são interessantes
Prédios
E jornais parados no ar
E pouco mais
Nada de relevante
Que me pudesse encantar
Fui então ao campo
Cheio de milhões de pontos de todas a cores
Pendurados no ar
Que não eram mais
Do que as pétalas das flores
Vi diamantes
Em igual estado de suspensão
Diamantes
Que avivaram a minha imaginação
Mas que não eram mais
Do que gotas de água
Das fontes
Dos riachos
Dos rios
Beijados pelo sol
Uma maravilha
Que só pude admirar
Porque o tempo
Se recusara a avançar
E vi muito mais coisas
Que demorariam uma eternidade a revelar
Podia mostrar as fotos
Mas não as cheguei a tirar
Porque como o tempo parou
Ela se recusou a funcionar…