POESIA AMIGA
Ó, poesia amiga,
vens a mim
a todo momento
pela luz de Deus,
no clarão do dia
ou na escuridão
da noite; eu sei
que sempre vens,
tão linda e meiga,
em lírica visita,
doar-me a tua
boa vontade,
para ser feita
com carinho,
pela consciência
poética sensível
ao doce encanto
dos versos simples,
que deixas brotar
de seus vocábulos
dispersos, ocultos
na íntima morada,
feita de sonhos
em mera inspiração,
de quem não pode
deixar de compor-te.
Sim, amiga poesia,
eu sou o teu amigo
poeta de todas
as horas, que jamais
se separa de ti;
eu sei que já me
acompanhas de priscas
eras existenciais;
que te aprimoras
no casulo de minha
consciência artística,
do mesmo modo
que se lapida uma
pedra bruta, para
converte-la em pedra
preciosa; assim és,
inseparável amiga,
essa pérola achada
em cada instante,
pelo poeta que
te capta e te deixa
fluir serena como
filete de água
descendo da serra,
nutrindo algas,
peixes, animais,
gentes; e seguindo
por boqueirões,
vales, enseadas,
fertilizando o solo,
até o precioso
momento em que
possas adocicar
as águas salgadas
do imenso mar;
quando então, amiga
poesia, sobes pela
evaporação,
condensando-se
em brancas nuvens
leves, e depois em
escuras nuvens pesadas,
para despejar os seus
versos chuvosos,
que o sol seca-os
no clarão do dia, mas logo
renasces na escuridão
da noite, fluindo como
seiva poética pelas
plantas orvalhadas;
porque antes de brotar
em mim, e concluir-se
de mim, ó poesia
tão amiga, fostes e és,
o Deus sol e o Deus
chuva, tão essenciais,
à preservação da vida!