“És estranha…vamos ser amigos…”
Disse-te sem que o estranhasses
Ou te afastasses por achares tal invulgar
Porque a verdadeira estranheza
Não é daquela forma que nos costuma encontrar
Disse-te entre copos
Entre cigarros
Mal o meu olhar encontrou o teu
Pela primeira vez
E assim
Sorrimos os dois com vontade
Sem qualquer tipo de embaraço
Levados pela dança do álcool
Sentados
Nunca deixámos de dançar
Não perdendo os olhos um do outro
Por entre o fumo
Que quase nada nos deixava vislumbrar
Mas não perdemos o sentido
Da conversa
Embora a lucidez nos começasse a abandonar
Não nos lembrámos do que tínhamos acabado de dizer
Lembrávamo-nos apenas
Que era um com o outro que queríamos estar
Estranhos não ao mundo
Mas às suas convenções
Aos seus convencionalismos
Aos seus costumes
Aos seus dogmas
Não assumidas prisões
Que não nos deixam ser
Aquilo que sonhámos
Ao começar a crescer
Estranhos não por rebeldia
Mas por mera convicção
De insistir a ouvir primeiro
Antes de dar ao outro a razão
Estranhos por insistirmos
No caminho a tomar
Estranhos por teimarmos
De pela nossa cabeça
E não dos outros
Continuarmos a pensar
Porque quem nos fazia
E queria
Estranhos
Não se recordava
Que o Reino dos céus
É composto também por estranhos
Sendo o maior de todos
Deus