“És estranha…vamos ser amigos…”

Disse-te sem que o estranhasses

Ou te afastasses por achares tal invulgar

Porque a verdadeira estranheza

Não é daquela forma que nos costuma encontrar

Disse-te entre copos

Entre cigarros

Mal o meu olhar encontrou o teu

Pela primeira vez

E assim

Sorrimos os dois com vontade

Sem qualquer tipo de embaraço

Levados pela dança do álcool

Sentados

Nunca deixámos de dançar

Não perdendo os olhos um do outro

Por entre o fumo

Que quase nada nos deixava vislumbrar

Mas não perdemos o sentido

Da conversa

Embora a lucidez nos começasse a abandonar

Não nos lembrámos do que tínhamos acabado de dizer

Lembrávamo-nos apenas

Que era um com o outro que queríamos estar

Estranhos não ao mundo

Mas às suas convenções

Aos seus convencionalismos

Aos seus costumes

Aos seus dogmas

Não assumidas prisões

Que não nos deixam ser

Aquilo que sonhámos

Ao começar a crescer

Estranhos não por rebeldia

Mas por mera convicção

De insistir a ouvir primeiro

Antes de dar ao outro a razão

Estranhos por insistirmos

No caminho a tomar

Estranhos por teimarmos

De pela nossa cabeça

E não dos outros

Continuarmos a pensar

Porque quem nos fazia

E queria

Estranhos

Não se recordava

Que o Reino dos céus

É composto também por estranhos

Sendo o maior de todos

Deus

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 16/08/2014
Código do texto: T4925117
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.