Contragosto
Se por acaso a noite quiser ficar comigo,
Minha roupa não sei, mas meus braços serão amigos.
Haverá como sempre flores no jarro da sala,
Não precisa tirar a sandálias, e ainda a vontade poderá ficar descalça.
Uma caneca quente de chá derreterá o gelo dos seus lábios,
Gotas de adoçante, pois periga estar com o paladar amargo.
Encosto no sofá ouvindo você,
Contrariada com o meu gosto, pede uma outra bebida e troca o cd.
Faço fácil leitura da expressão do seu rosto,
Hoje sem maquiagem alguma a contragosto.
Me fala soluçando evitando chorar,
Quando não se contém e as lágrimas rolam, sentada no velho sofá.
A vida lhe deu do amor o seu maior martírio,
Do qual seguia cegamente por costume, ou talvez por vício.
Vai à janela e me deixa por um momento só na sala,
Como quem clama ao vento que sua face se depara.
Pedindo aos céus que te afaste dos antigos fantasmas.