Na nossa Última sentinela

Ora guardámos

Ora dançámos

Um exército que desprezávamos

E uma liberdade

Tão longe

Que até custava nela pensar

Mas uma liberdade

Que estávamos prestes a tocar…

E as horas passaram como séculos

Com uma lentidão

Que se não fosse vivida

Em tal custava a acreditar

Enquanto víamos lá fora

Um mundo

Que depois da grande noite acabar

Seria o mundo

Onde a grande aventura iria de facto começar…

Medindo o tempo

Não pelo relógio

Mas pelos cigarros apagados

Mortos no chão

Daquela que estava a deixar de ser

Uma espécie de prisão…

Um absurdo

Porque os exércitos servem para manter a paz

Para garantir a liberdade

E por isso quando me senti preso

Senti toda a irracionalidade do mundo…

E por isso

Naquela noite dancei com a liberdade

Que via pela minha janela

Dancei com uma liberdade bem perto

Embora ninguém me deixasse tocar nela

Dancei com os meus sonhos

Que iria concretizar

Dancei com uma arma

Que me deram para matar

Dancei com a raiva

Dancei com o medo

Dancei com as palavras

Que escrevi

Para que aquela noite não mais fosse esquecida

Porque quando estamos cativos

A alma não deve ser negra

A alma deve ser como uma aguarela

Com todas as cores do mundo

Que nos permitam sobreviver

À nossa Última sentinela

Poema baseado num que fiz nas derradeiras horas de tropa, horas que passei como sentinela

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 14/07/2014
Reeditado em 14/07/2014
Código do texto: T4881906
Classificação de conteúdo: seguro
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