Na nossa Última sentinela
Ora guardámos
Ora dançámos
Um exército que desprezávamos
E uma liberdade
Tão longe
Que até custava nela pensar
Mas uma liberdade
Que estávamos prestes a tocar…
E as horas passaram como séculos
Com uma lentidão
Que se não fosse vivida
Em tal custava a acreditar
Enquanto víamos lá fora
Um mundo
Que depois da grande noite acabar
Seria o mundo
Onde a grande aventura iria de facto começar…
Medindo o tempo
Não pelo relógio
Mas pelos cigarros apagados
Mortos no chão
Daquela que estava a deixar de ser
Uma espécie de prisão…
Um absurdo
Porque os exércitos servem para manter a paz
Para garantir a liberdade
E por isso quando me senti preso
Senti toda a irracionalidade do mundo…
E por isso
Naquela noite dancei com a liberdade
Que via pela minha janela
Dancei com uma liberdade bem perto
Embora ninguém me deixasse tocar nela
Dancei com os meus sonhos
Que iria concretizar
Dancei com uma arma
Que me deram para matar
Dancei com a raiva
Dancei com o medo
Dancei com as palavras
Que escrevi
Para que aquela noite não mais fosse esquecida
Porque quando estamos cativos
A alma não deve ser negra
A alma deve ser como uma aguarela
Com todas as cores do mundo
Que nos permitam sobreviver
À nossa Última sentinela
Poema baseado num que fiz nas derradeiras horas de tropa, horas que passei como sentinela