Sophia esperou pela alvorada
Esperando o fim da noite
Da maior noite que tinha coberto a Terra
Que estava a acabar
Esperando o nascer do sol
De um dia que tudo iria mudar…
Ela esperou
Contando todos os minutos
Sentindo todos os segundos
Os últimos
Das trevas
Imaginando as horas
Os anos
À sua frente
Que estavam à sua espera…
Esperou pelo Dia dos Dias
Com que tanto tinha teimado em sonhar
Num tempo em que todos diziam
Que a noite tinha vindo para ficar…
E à medida que o tempo ia passando
Lentamente ela ia começando a sorrir
E assim quando o sol por fim nasceu
Os seus raios iluminaram um rosto
De um povo que se tinha acabado de libertar
Sophia esperou
E desde aquele dia
Não mais teve que esperar…
Nota:
Nas primeiras horas de 25 de Abril de 1974, telefonaram para casa de Sophia de Mello Breyner a avisarem a sua família que uma revolução estava em curso.
Sophia esperou então pela chegada do dia, acordada, esperou pelo dia que iria confirmar o fim da ditadura que governou Portugal durante 48 anos.
Este poema é pois uma extrapolação do que Sophia teria sentido naquelas horas de espera.
Sophia de Mello Breyner Andresen1 GCSE • GCIH (Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004) foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999. Desde 2014 está no Panteão Nacional.
Fonte: Wikipédia : http://pt.wikipedia.org/wiki/Sophia_de_Mello_Breyner_Andresen