O poema de Penélope
Na Odisseia, Penélope (mulher de Ulisses) pressionada para se casar de novo perante a longa ausência do marido, aceitou casar mas só depois de tecer um sudário, tecendo este de dia mas desfazendo de noite o seu trabalho de dia, procurando assim adiar o casamento o mais possível.
Escrevo vou escrevendo
Tendo guardado um número
Que depois de o atingir
Finalmente te irei procurar
O número de poemas
Que estou sempre a adiar…
Vou escrevendo
E quando me aproximo
Outro número tendo a inventar
Porque embora te ame
Receio o teu olhar…
Não sabendo se este me irá receber
Ou quando olhar para mim
Não me irá ver
E por isso o tal número
Não pára de crescer…
Mas sei
Tal será inevitável
Que um dia
Os números vão acabar
Mas sei também
Que quando for ter contigo
Estarás noutro lugar
E assim tudo se perderá
Porque ao contrário da outra história
Esta ninguém irá contar
Talvez porque o número
Era fechado
Não infinito
A nossa história que ficou por contar
Era vulgar
Tanto
Que nem se transformou num mito, no nosso mito…