Sonho Decifrado

Eu te contei meu sonho ruim:

Amigo, um avião de noite caía,

Por detrás da serra despencava.

E a tudo, impassível, eu assistia.

Minha visão a rocha vazava.

Você comentou, sorrindo:

- Só mesmo em sonho, amigo!

- Sonho louco, sem sentido!

Você discordou.

Em tudo encontrava um sentido.

E por meu sonho se interessou.

Continuei:

Enquanto caía, nós dois conversávamos num bar,

Como se os desastres fossem banais.

Mas depois, o avião surgiu ao longe

E vinha em nossa direção.

Seu nariz redondo e negro crescia e crescia.

Cada vez mais perto, mais assustador.

Todos ao redor fugiram, apavorados.

Eu e você corremos juntos.

Depois foi cada um por si,

Correndo em disparada,

Mas sempre lado a lado.

Era um avião obstinado.

Sempre em nosso encalço...

- Coisa de sonho, cara!

Então, finalmente a queda,

O desastre às nossas costas.

A explosão, nossos corpos voando...

Você foi parar tão longe!

E mais longe eu voei ainda.

Depois não lembro mais.

Acordei, impressionado.

Contei-lhe tudo no outro dia.

Você ficou calado ao final, pensativo,

Tão pensativo e grave que me assustou.

De sonho só você entendia.

Pra mim era tudo bobagem.

Foi outra discussão por um nada

(Pensávamos tão diferente!)

Mas hoje eu me pergunto:

Se tudo tem um sentido,

Até os sonhos,

E se você sabia...

O que realmente se despedaçava.