Poeta pródigo
Aos queridos que questionam,
o porquê dessa ausência vasta,
Afinal, amigos não abandonam;
Terei dado nas letras um basta,
Por ver meu dom caído na lona
tendo a mecha da criação gasta,
restou ao ex poeta beber na zona?
Me acossam escrúpulos éticos,
Pois, é grata a ventura de os ter;
Confrades nos arranjos estéticos,
Aos quais, pois, devo esclarecer,
Nesse pobre arranjo assimétrico
Que o que me fez desaparecer,
Foram estritos motivos internéticos...
Minha inadimplência até constrange,
SERASA já arrola, sei, o meu nome;
Não há palavra que me arranje,
Um naco de pão para essa fome;
Acabrunhada exercita-se a falange,
digita fragmentos, alma do homem
troca por iguais, na “soul exchange”...
Escusas, pois, pelo aparente descaso,
caso a alguém tenha parecido assim;
o fato é que se partiu o meu vaso,
e faltavam mudas iguais no jardim;
o labor viu nisso conveniente azo,
para se apossar inda mais de mim,
enfim, alma voa, prisão não é o caso...
Eis-me à porta, morrendo de vontade,
De voltar ao prazeroso escambo;
Dando vazão a cada mote que invade,
Para que não mais erre qual molambo;
Estou com sangue nozóio, barbaridade,
Pintando a cara armado qual Rambo,
Para explodir o refúgio da saudade...