desde 1990
Seu rosto é quadrado
quando quero seu retrato
É oval
quando chega o Carnaval
É de cera
quando estou de vela
É de madeira
- sobra óleo de peroba
É de moleque
quando alguém assina o cheque
e assim nossa sentença se iguala
É de plebe
para que fiquemos numa boa
observando o tempo que ainda nos falta
Seu rosto de navalha,
separando minhas vontades
Seu rosto de ébano
superando as verdades
Seu rosto desconheço
mas conheço a insanidade
do calor de sua pele
roçando minhas dobras
(Ao abandonar a mocidade
achei que você viria
com a cara e a coragem
reivindicar minha virilha
Vêm, passa a língua
nela
Cura minhas cicatrizes
Faz com que minha espera
termine antes das varizes
Faz de mim banquete
faz de mim final de novela
Sê o meu ourives
molde-me com seus quadris
Com chave-de-perna prensarei sua dor
Pois no passado te pertenci
Nosso desejo foi um só
1990,
lembro do dia que te vi
e medi
teu olho
na ponta da
caneta
programando a telepatia
para um dia
ser sua eterna ninfeta.)