Solidões…
Dos mil anos que vivi
E dos mil anos que ainda espero viver
Conheci e vivi as duas piores solidões
Que se podem sentir
Que se podem ver…
A solidão
De se disparar uma arma
Porque nessa altura
Só existimos nós
E o que devemos alvejar
Porque nada deve impedir
Quem tem que matar…
E sentimos então um estranho silêncio
No qual só ouvimos
Um som
Um estampido
Mesmo que o mundo nos esteja a berrar
Ao ouvido…
É um silêncio sinistro
Aquele que precede a destruição
E apesar de serem meros tempos de treino
Para guerras que nunca chegaram a acontecer
Ainda sinto esses momentos
Ainda sinto essa solidão…
A outra
Solidão
É bela
É a que precede e acontece durante a criação
A altura em que estamos a escrever
A dar asas à imaginação
Queremos estar acompanhados
Mas estamos e estaremos sempre sós
Porque se está sempre só
E apenas pelos nossos sonhos
Estamos guardados…
O sonho da escrita ser o mais fiel possível
Do que estamos a sentir
E que temos a urgência de querer partilhar
Porque tanto a imaginação
Como os nossos sentimentos
São demasiado valiosos
Para os deixarmos em nós enclausurados
O sonho
De depois sermos lidos
E que as nossas palavras
Sejam aquelas que não as conseguem em escrever
Palavras individuais
Que passam assim
A globais
Mas antes desse momento
Há um momento de enorme sacrifício
No qual temos que de tudo nos separarmos
Momentos de prazer
Momentos de dor
De concentração
Porque só assim serão claras
O que nos move
As nossas emoções
Mas dói
Como dói
Para elas nascerem no papel
Termos que passar pelo eterno martírio
Das
Solidões…