Solidões…

Dos mil anos que vivi

E dos mil anos que ainda espero viver

Conheci e vivi as duas piores solidões

Que se podem sentir

Que se podem ver…

A solidão

De se disparar uma arma

Porque nessa altura

Só existimos nós

E o que devemos alvejar

Porque nada deve impedir

Quem tem que matar…

E sentimos então um estranho silêncio

No qual só ouvimos

Um som

Um estampido

Mesmo que o mundo nos esteja a berrar

Ao ouvido…

É um silêncio sinistro

Aquele que precede a destruição

E apesar de serem meros tempos de treino

Para guerras que nunca chegaram a acontecer

Ainda sinto esses momentos

Ainda sinto essa solidão…

A outra

Solidão

É bela

É a que precede e acontece durante a criação

A altura em que estamos a escrever

A dar asas à imaginação

Queremos estar acompanhados

Mas estamos e estaremos sempre sós

Porque se está sempre só

E apenas pelos nossos sonhos

Estamos guardados…

O sonho da escrita ser o mais fiel possível

Do que estamos a sentir

E que temos a urgência de querer partilhar

Porque tanto a imaginação

Como os nossos sentimentos

São demasiado valiosos

Para os deixarmos em nós enclausurados

O sonho

De depois sermos lidos

E que as nossas palavras

Sejam aquelas que não as conseguem em escrever

Palavras individuais

Que passam assim

A globais

Mas antes desse momento

Há um momento de enorme sacrifício

No qual temos que de tudo nos separarmos

Momentos de prazer

Momentos de dor

De concentração

Porque só assim serão claras

O que nos move

As nossas emoções

Mas dói

Como dói

Para elas nascerem no papel

Termos que passar pelo eterno martírio

Das

Solidões…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 05/03/2014
Código do texto: T4716414
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