FORTE FICA NOSSA AMIZADE
Amizades são como medicamento
em conta-gotas:
podem curar-nos de repente,
ou aumentar nossas dores intermitentes.
Reanimam-nos,
encorajam-nos,
fortalecem-nos . . .
ou nos intoxicam, vez ou outra.
Amizades tipo lenitivo
são as que abrandam sensações desagradáveis,
como a impetuosidade de uma sangradura.
Recobrem nosso ferimento
com curativo, atadura...
Mas não conseguem avaliar nossos lamentos.
Amizades do tipo sedativo
até trazem à cabeça um certo alívio.
Ih!...
Pelo que está escrito na bula,
parecem não merecer total confiança.
É que sedam, tranquilizam,
nos deixam a cuca lélé...
mas trazem recomendado no rodapé:
“manter longe do alcance das crianças”.
Amizades antissépticas...
Quando muito, desinfetam os nossos pés:
“Diz-me com quem andas e eu direi quem és”.
Outras ainda se veem:
antialérgicas, antirrábicas...
Difícil mesmo de acreditar
e duvido você encontrar
- pois, quase ninguém mais fabrica –
são as anticépticas!!!
Amizades inodoras?
Sim, também há.
Não fedem, não cheiram
e nem sempre nos servem.
Fazem-nos perder um pouco de nossas horas...
E, o que é pior,
Por ter pequena legitimidade ou valência,
nunca prescrevem.
Haja paciência!!!...
Amizades de uso tópico.
Sempre alcoolizadas...
Se esvanecem ao primeiro sopro.
Ficam se esfregando em nosso braço
ou em alguma outra parte do corpo.
Parecem bolinhas de algodão
umedecidas,
procurando espaço sob medida
pro injetar de um antibiótico.
Há amizades que viram polvilho.
São aquelas que parecem cobrir de amido a prurigem:
dermopática lesão insisa...
Aí, quando retiramos o pó,
é inevitável o mau-cheiro...
Esqueceram de que é preciso
limpar bem o local que prui, primeiro.
Há também as que deixam um suor estranho
em nossas entranhas.
Até descobrem nossos “ais”
e nossas manhas.
Penetram certeiras
em nossos músculos e nossas veias.
Querem sempre do corpo uma resposta,
um efeito imediato.
Contêm, de fato, qualquer tremor ou rebuliço
logo no primeiro trato.
Amizades goela a dentro.
Algumas vêm em drágeas.
Tomadas com água têm efeito lento.
Outras são xaroposas,
até se misturam aos alimentos.
Juntadas à comida
provavelmente insossa,
empanturram por aerofagia
se tomadas à força.
Por intragáveis,
rejeitamos essas amizades
E expelimos tudo
quando o estômago arde.
Há amizades que envenenam,
se usadas em demasia,
noite e dia.
Há as que tememos tocar com as mãos,
ou o fazemos com muito cuidado
porque se destinam ao resguardo
do coração.
Há umas que vêm enlatadas,
outras em envoltórios quase abertos.
Gostam de se esfregar em nossa pele.
São de aparente uso externo.
Trazem-nos uma sensação de pudor,
ou melhor:
de odor e de ardor.
Pra essas amizades, o quê receitar?
Prescrição nenhuma.
Queremos mesmo é experimentar
o seu coçar
e a leveza de suas unhas.
Feliz de quem escolhe amizade tal como se medica
e encontra a substância certa,
prescrita pela razão e pelo coração,
Amizades são como medicamento
em conta-gotas:
podem curar-nos de repente,
ou aumentar nossas dores intermitentes.
Reanimam-nos,
encorajam-nos,
fortalecem-nos . . .
ou nos intoxicam, vez ou outra.
Amizades tipo lenitivo
são as que abrandam sensações desagradáveis,
como a impetuosidade de uma sangradura.
Recobrem nosso ferimento
com curativo, atadura...
Mas não conseguem avaliar nossos lamentos.
Amizades do tipo sedativo
até trazem à cabeça um certo alívio.
Ih!...
Pelo que está escrito na bula,
parecem não merecer total confiança.
É que sedam, tranquilizam,
nos deixam a cuca lélé...
mas trazem recomendado no rodapé:
“manter longe do alcance das crianças”.
Amizades antissépticas...
Quando muito, desinfetam os nossos pés:
“Diz-me com quem andas e eu direi quem és”.
Outras ainda se veem:
antialérgicas, antirrábicas...
Difícil mesmo de acreditar
e duvido você encontrar
- pois, quase ninguém mais fabrica –
são as anticépticas!!!
Amizades inodoras?
Sim, também há.
Não fedem, não cheiram
e nem sempre nos servem.
Fazem-nos perder um pouco de nossas horas...
E, o que é pior,
Por ter pequena legitimidade ou valência,
nunca prescrevem.
Haja paciência!!!...
Amizades de uso tópico.
Sempre alcoolizadas...
Se esvanecem ao primeiro sopro.
Ficam se esfregando em nosso braço
ou em alguma outra parte do corpo.
Parecem bolinhas de algodão
umedecidas,
procurando espaço sob medida
pro injetar de um antibiótico.
Há amizades que viram polvilho.
São aquelas que parecem cobrir de amido a prurigem:
dermopática lesão insisa...
Aí, quando retiramos o pó,
é inevitável o mau-cheiro...
Esqueceram de que é preciso
limpar bem o local que prui, primeiro.
Há também as que deixam um suor estranho
em nossas entranhas.
Até descobrem nossos “ais”
e nossas manhas.
Penetram certeiras
em nossos músculos e nossas veias.
Querem sempre do corpo uma resposta,
um efeito imediato.
Contêm, de fato, qualquer tremor ou rebuliço
logo no primeiro trato.
Amizades goela a dentro.
Algumas vêm em drágeas.
Tomadas com água têm efeito lento.
Outras são xaroposas,
até se misturam aos alimentos.
Juntadas à comida
provavelmente insossa,
empanturram por aerofagia
se tomadas à força.
Por intragáveis,
rejeitamos essas amizades
E expelimos tudo
quando o estômago arde.
Há amizades que envenenam,
se usadas em demasia,
noite e dia.
Há as que tememos tocar com as mãos,
ou o fazemos com muito cuidado
porque se destinam ao resguardo
do coração.
Há umas que vêm enlatadas,
outras em envoltórios quase abertos.
Gostam de se esfregar em nossa pele.
São de aparente uso externo.
Trazem-nos uma sensação de pudor,
ou melhor:
de odor e de ardor.
Pra essas amizades, o quê receitar?
Prescrição nenhuma.
Queremos mesmo é experimentar
o seu coçar
e a leveza de suas unhas.
Feliz de quem escolhe amizade tal como se medica
e encontra a substância certa,
prescrita pela razão e pelo coração,
e a respeita,
e aproveita,
e forte fica.
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Nota: O autor escreveu este poema no balcão da farmácia do sr. Hélio Almeida, no início da década de sessenta - seu primeiro patrão, seu primeiro emprego. Dedica-o, agora, a ele e ao seu então professor de português, hoje octogenário - promotor José Francisco de Almeida - que corrigiu, declamou e o dissecou em sala de aula - Ginásio Imaculada Conceição - Cabedelo (PB).
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e aproveita,
e forte fica.
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Nota: O autor escreveu este poema no balcão da farmácia do sr. Hélio Almeida, no início da década de sessenta - seu primeiro patrão, seu primeiro emprego. Dedica-o, agora, a ele e ao seu então professor de português, hoje octogenário - promotor José Francisco de Almeida - que corrigiu, declamou e o dissecou em sala de aula - Ginásio Imaculada Conceição - Cabedelo (PB).
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