Vida de peregrino Amor de poeta
Meu nome é João Niguém.
A vida me fez peregrino
mas, meu sonho de menino
é fincar os pés no chão.
Combalido pela sorte,
quero encontrar na morte
repouso como cristão.
Tenho meus pés calejados,
as mãos são tortas, porque
tudo tive de fazer.
Mas sou um pobre coitado,
não jogo, não fumo, não bebo
mas, se não tenho sossego
é que eu não tive sorte.
Sem passado, sem esperança,
já não tenho na lembrança
se nasci no Sul ou no Norte.
Minha casa é uma esteira
que carrego a vida inteira,
daqui p’ra lá, de lá p’ra cá.
Minha música é a cigarra.
De noite a lua me agarra,
depois o sol vem me abraçar.
Assim eu passo os dias
a caminhar na mesma direção,
pisando folhas que o vento leva,
carregando mágoas no meu coração.
Quem sabe, n’um cair de tarde
alguém me veja e me estenda a mão!?