AMIZADE RANCOROSA
Estou cansado dessa sua maneira valorosa de me desvalorizar, da atenção desatenciosa que desprende pras mensagens que te mando; como curtes as minhas palavras nas publicações de outras pessoas, dos meus poemas não te falarem nada no tudo de teu diagrama; as minúcias que arranjas pra desarranjar-se do prazer que me dás ao sorrires, ao me falares, ao me cumprimentares ainda sendo com um ligeiro e leve toque de mão no qual encenas um soco no meu estômago, as farpas que saem dos teus lábios quando discorda do meu posicionamento teórico-prático sobre as querelas suscitadas nas reuniões regulares que temos em dias comuns adotando a postura subversiva e altissonante do outro lado da mesa; estou cansado desses teus olhos pequenos e gentis ignorarem as macaquices quietas que arrisco pra simplesmente levantares o rosto do celular que ilumina os chifres de diaba que surgem na tua testa brilhante e franzida que certamente maquina algum truque pra alterar minha voz e retirar-me do meu transe hipnótico e observador empregado para não subtrair-te e evaporar-se sua presença de perto de mim; estou cansado de emprestar ligações a cobrar pra me atenderes e me liberar depois de comprovada tua ligeira atenção a espera observada da ligação automática que te faço antes das constantes provas de pensamentos que te dou ante a furiosa tentação de te negar, te deixar pra lá e entornar o que quer que tenha nas mãos antes de chegares; estou cansado de ser essa máquina movida a álcool o qual emprego muitas vezes como um subterfúgio para te ver e fugir de ti, afim de que não sejas atingida pelo antagonismo massacrante do qual sou alvo e não faço nada, pelo contrário, tinjo no peito com tinta branca e vermelho de sangue: venha, fere-me, vê se hoje me matas! Então eu vivo só pra que tentes de novo e novo até cansares e me atacares desses detalhes mágicos desconcertantes que são só pra mim e disso me orgulho, não me canso pois pelo menos isso me dás e nunca vais poder tomar de volta: Nosso nível de amizade rancorosa!