A PROFANA CEIA
Vê, Senhor, quanta tristeza
Sentados ao redor da mesa
Comem fartos os animais
Animais sim eles são
Porque de inanição
Deixam morrer os demais
Naquela mesa comprida
Forrada de seda e florida
Uísque, lagosta e muito mais
Enquanto isso, no chão,
Alguém estende a mão
Em busca do resto que cai
Tenha piedade, meu Deus!
Olhai para os filhos seus
Porquê tanta diferença?
Será, meu Deus, que estamos
Fazendo parte de um plano
De uma futura recompensa?
Eis a nossa esperança:
Que um dia essa festança
Vai chegar ao seu final
E os que hoje na mesa estão
O seu lugar será no chão
Chorando uma sopa ou um mingau
E lembrar-se-ão que um dia
A vida era só de alegrias
De banquetes ornamentais
E os que habitavam o chão
Catando migalhas de pão
Serão os novos comensais
Ó quão desumanos somos!
Ó quão insensato o nosso modo de viver!
Podíamos melhor repartir o pão
E dizer: meu amigo, coma também você!