A LUA QUER OUVIR
Eu conheço a distancia que persegue teus passos
Eu já senti esta fome mundana que te enche o peito
Eu já fugi das mesmas coisas
Já vi Bukowski discorrer sobre loucura e sujeira
Sobre ruas e mendigos
Sobre bêbados e putas
E com que talento ele fez isto!
Posso sentir teu medo enjaulado em você
Um animal faminto e furioso urrando pro nada da tua vida
O medo é só isto!
Ainda que ande em matilhas como velhos lobos perversos de antigas fabulas
Ainda que alimentado e aumentado por tua ignorância...
O medo é só o medo!
Você e eu contadores de estórias que ninguém quer ouvir
Tantos bares e praças
E calçadas você lembra?
Velhas casas abandonadas com cheiro de mato e mofo nas paredes
Risadas insanas e vinho
Nada é mais selvagem!
Nos vimos Ginsberg uivar e uivamos com ele
Soubemos de Solomon em coma e mergulhamos no mesmo torpor
Eu soube de Corso... mas você não!
Admiramos Dylan Thomas pelo que ele escrevia
Mas entendíamos também o fascínio de suas garrafas
Eu conheci Neal Cassady e Jack Kerouac em dias em que estavas perdido
Não trocamos correspondência
Definhou a nossa poesia
Velho amigo eu sei da liberdade que você precisa
Eu conheço o vicio de que não podes fugir
E acredite por mais que tentes... não consegues esconder de ninguém o teu medo!
Velho amigo quando o passado e mais que lembrança o futuro tende a ser triste
Quando você só pode falar da dor...
Falar com a dor...
Pedir a dor...
Lutar com a dor...
Lutar pela dor...
O presente tende a ser sombrio
Se hoje ainda andas em terras estranhas não mais te preocupes
Não é solo em que pisas velho amigo!
É sim o cuidado com onde você Poe o pé
E se a via Láctea não te espanta mais
Se obscuro e o sinistro não podem mais Lhe tirar o sono
Então espie esta noite que chega
Há uma lua La fora... sempre houve
Deixe os medos e a poesia pra amanhã
Toque seu violão, a lua quer ouvi-lo hoje.