Conhaque e Poesia (A Luis Tomasini)

Esqueçam as metáforas, as teorias e técnicas e blábláblás,

Aqueles olhos velhos nos saúdam com um sorriso infante,

Ele sorri suspendendo as fibras do coração junto à boca,

Sua carne jovem dilacera-se junto com sua alma velha

Alvejada pela artilharia de mentiras e juras falsas do mundo,

Entretanto as palavras do mundo não têm carne como as suas,

Mesmo assim ele sangra suas desilusões em revoltas no papel,

Sente pena de tudo que não é capaz de sentir como ele,

Seu templo são os botecos, onde todo defeito ou virtude

É liquefeito no álcool e reproduzido com alegria

Em sua verdadeira forma, todos nus diante de todos,

Ele confabula com fidalgos sobre literatura, música e cinema,

Mostra-se um cinéfilo, apresenta seus poemas, seus projetos musicais,

No mesmo instante troca uma idéia com o operário sobre

A dura vida do trabalhador, futebol e decotes avantajados,

E lembra que a vida árdua do trabalho braçal e a violência das ruas,

Foi o que poliu sua licença poética em solda e farpas de ferro,

Inúmeros camaradas já o chamaram e chamam de melhor amigo,

Pois nele achamos aquele privilégio sincero da infância,

Com as amigas, ele é a lapide onde elas sepultam as magoas,

Com as amantes, ama a volúpia, o desfruto do próprio amor,

Mas quando transgride as fronteiras da paixão,

A amante torna-se a amada, seu peito toma fôlego das tristezas,

Cessa suas braçadas no mar da loucura, rompe o fardo do tempo,

E ele descansa no colo da plenitude, um puro coração

Volta a crer na extinção da ampulheta, como um dia irá de se extinguir,

Porem a areia insiste em enterrar sua cordialidade

Com belos corpos que pulsam somente amargura e hostilidade,

E seus braços fartos dessa busca vestem-se de indiferença,

Para curar falsas cortesias, mas seu peito continua terno,

Para ali enclausurar os que seu coração sente a reciprocidade do amor,

E aqueles que o sentem por onde seus pés já passaram, de Ouro Preto a Assis,

Absorve seus fragmentos de alma flagelada direto no coração,

Transformando o peito num sepulcro de compaixão e sinceridade,

Nascendo flores de uma amizade regada a conhaque e poesia.