ETÉREA
Tento tento e tento e o poema em linha reta descamba
acha desvios e curvas sombrias e francas
se perde além do limite das palavras limpas e lavadas
caminha trôpego só pela estrada
o grito do ouro sobe às nuvens solitárias
o marfim canta seus elefantes
nesse instante
percebo que te amo, poesia,
percebo que gastei meus últimos dias
sorvendo bebidas escandinavas
soletrando risos chineses
ouvindo a música sentenciosa de Brahmns
reparti continentes para que muralhas caiam
em teus versos corri rios de dúvidas
o sangue que se multiplica se torna consciência
as amarras se rompem
translúcido campo de flores d'água
diz misericórdia
tua mão que não existe
toca a pele do acontecer
que se põe em riste
aqueles que acordam do sono da matéria
riem
da poesia
etérea.