(n)A Estrada I
Um dia decidimos morar
Porque um jovem que se dizia velho
Nunca irmos envelhecer
Enquanto essa Estrada não acabar…
Achámos tal na altura uma loucura
Uma coisa sem sentido
A que não demos importância
A que não demos ouvidos…
Até que ao sentirmos uma esmagadora inquietação
De motivo desconhecido
Uma espécie de fome que inquietou a nossa alma
Tentámos que ela desaparecesse
Na Estrada…
E andámos
Nunca parando de andar
Conhecendo infinitas pessoas
Infinitos lugares
Vivenciando coisas
Com as quais nunca pensáramos sonhar…
Andámos por uma eternidade
Cada vez mais sequiosos
Pois o que íamos vendo
E vivenciando
De alguma forma nos completava
Não sendo contudo suficiente
Colocando a hipótese que o que buscávamos era a nossa morada…
Recordando-nos então do olhar do jovem que se dizia velho
Percebendo então a dimensão do seu conselho
Ele era afinal um homem novo
Que envelhecera antes do tempo
Vencido pelo pensamento que a imortalidade é um dom que não se pode alcançar
E por isso imaginou
Que na Estrada
O tempo nunca o iria apanhar
Nunca tendo partido
Ficando na berma dela
Com medo de se enganar…
Lembro-me quando chegámos a esta conclusão
Recordo muito bem o teu olhar
Que apesar de ladeado por imensas rugas
Era jovem
Porque te atreveras comigo a sonhar
E na estrada procurámos não fugir do tempo
Mas o máximo possível dele agarrar
Descobrindo que a Estrada era a nossa casa
Porque a casa de um ser
É onde ele gostar de estar
E a nossa casa era o mundo inteiro
Porque só uma enorme casa nos poderia agradar
Uma casa onde coubessem todas as emoções
Todas as imagens
Todas as recordações
Que pudéssemos tocar
Sendo por isso a nossa morada
O local onde sempre estivéramos:
A Estrada…