(n)A Estrada I

Um dia decidimos morar

Porque um jovem que se dizia velho

Nunca irmos envelhecer

Enquanto essa Estrada não acabar…

Achámos tal na altura uma loucura

Uma coisa sem sentido

A que não demos importância

A que não demos ouvidos…

Até que ao sentirmos uma esmagadora inquietação

De motivo desconhecido

Uma espécie de fome que inquietou a nossa alma

Tentámos que ela desaparecesse

Na Estrada…

E andámos

Nunca parando de andar

Conhecendo infinitas pessoas

Infinitos lugares

Vivenciando coisas

Com as quais nunca pensáramos sonhar…

Andámos por uma eternidade

Cada vez mais sequiosos

Pois o que íamos vendo

E vivenciando

De alguma forma nos completava

Não sendo contudo suficiente

Colocando a hipótese que o que buscávamos era a nossa morada…

Recordando-nos então do olhar do jovem que se dizia velho

Percebendo então a dimensão do seu conselho

Ele era afinal um homem novo

Que envelhecera antes do tempo

Vencido pelo pensamento que a imortalidade é um dom que não se pode alcançar

E por isso imaginou

Que na Estrada

O tempo nunca o iria apanhar

Nunca tendo partido

Ficando na berma dela

Com medo de se enganar…

Lembro-me quando chegámos a esta conclusão

Recordo muito bem o teu olhar

Que apesar de ladeado por imensas rugas

Era jovem

Porque te atreveras comigo a sonhar

E na estrada procurámos não fugir do tempo

Mas o máximo possível dele agarrar

Descobrindo que a Estrada era a nossa casa

Porque a casa de um ser

É onde ele gostar de estar

E a nossa casa era o mundo inteiro

Porque só uma enorme casa nos poderia agradar

Uma casa onde coubessem todas as emoções

Todas as imagens

Todas as recordações

Que pudéssemos tocar

Sendo por isso a nossa morada

O local onde sempre estivéramos:

A Estrada…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 14/04/2013
Reeditado em 15/04/2013
Código do texto: T4240424
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