Cidades...
Um dia ficámos fartos das Cidades…
Fartos do cansaço de nunca existir um tempo certo para dormir
Porque elas estavam sempre iluminadas
E assim o tempo que tínhamos disponível
Esgotava-se bem depressa
E esse tempo acabava por não servir para nada…
Porque nas cidades se tentava viver de forma tão intensa
De forma tão apressada
E tendo tantas coisas para ver
Quando íamos descansar
Notávamos que a nossa existência era vazia
Sentíamos que a nossa vida era uma vida desperdiçada…
Sedentos do tempo real
Abandonámos então as Cidades
Todas as Cidades
E voltámos à natureza para o tempo podermos tocar
Vendo realmente uma flor a crescer
Ou ver realmente como a areia costuma ser beijada pelo mar…
Dormindo na hora correcta
A hora do sol
Vivendo não o tempo como ele é vivido na televisão
Vivendo o tempo
De cada estação…
Tendo como divertimento
Não filmes
Não jornais
Não a falsa emoção passada na rede
Sendo que chegámos ao lento êxtase
De nos maravilharmos com a sublime mudança de cor nos campos
Que só acontecia a cada estação
Mas esse divertimento era tão belo
Que apesar de ser Um
Valia por um milhão…
E assim lentamente fomos vivendo
Fomos crescendo e prosperando
Mas fomos também esquecendo
Do que nos levara até ali
Achando banais
Os frutos da natureza
Que por serem tão belos e tão simples
Eram geniais
Fomos criando o ócio
Que clamava por mudança
Começando a ambicionar mais do que o brilho das estrelas
Querendo criar algumas acesas mesmo de dia
E que brilhassem por toda a eternidade
Fomos criando um mundo novo
Onde acabámos por construir novas Cidades...