Convite a um amigo – à Romeu Campos Maia Souza
Ontem, ia eu a caminho da casa dum velho amigo.
Atravesso a pinguela que separa seu sítio do continente,
passo por sobre um braço de rio que me convida a ser água;
chego à sua morada e Romeu de Campos espera-me à porta,
por sob seus umbrais: nosso abraço demorado dá mostras do carinho mútuo.
Tomo um café que me convida a ser quente;
sento-me em sua cadeira predileta e ele me repreende
sento então na cadeira vaga posta ao lado;
sentamo-nos um do lado do outro e diletamos sem parar:
o espírito da noite nos convida a ser estrelas.
Decidimos por ser planeta e satélite
mesmo contra a vontade dos anciãos que nos espreitam pela fresta do tempo;
amiúde nos lembramos disso e caímos numa gargalhada metafísica.
Está prestes o fim do nosso encontro
e derramados em vinho tinto barato convido-o a ser uva.
Ele me convida a ser garrafa. Pronto; uma amizade que num gargalo
nos convida ao Porto para que lá sejamos rotulados como um bom vinho.
Mas não somos portugueses, somos mineiros;
não moramos na mesma cidade, somos uma vila
de emigrantes que tem por costume se iluminar no mesmo candeeiro:
lampião de chama fraca que nos convida a ser combustão.
Planeta e lua, trespassando o fogo, somos: LUZ!