Convite a um amigo – à Romeu Campos Maia Souza

Ontem, ia eu a caminho da casa dum velho amigo.

Atravesso a pinguela que separa seu sítio do continente,

passo por sobre um braço de rio que me convida a ser água;

chego à sua morada e Romeu de Campos espera-me à porta,

por sob seus umbrais: nosso abraço demorado dá mostras do carinho mútuo.

Tomo um café que me convida a ser quente;

sento-me em sua cadeira predileta e ele me repreende

sento então na cadeira vaga posta ao lado;

sentamo-nos um do lado do outro e diletamos sem parar:

o espírito da noite nos convida a ser estrelas.

Decidimos por ser planeta e satélite

mesmo contra a vontade dos anciãos que nos espreitam pela fresta do tempo;

amiúde nos lembramos disso e caímos numa gargalhada metafísica.

Está prestes o fim do nosso encontro

e derramados em vinho tinto barato convido-o a ser uva.

Ele me convida a ser garrafa. Pronto; uma amizade que num gargalo

nos convida ao Porto para que lá sejamos rotulados como um bom vinho.

Mas não somos portugueses, somos mineiros;

não moramos na mesma cidade, somos uma vila

de emigrantes que tem por costume se iluminar no mesmo candeeiro:

lampião de chama fraca que nos convida a ser combustão.

Planeta e lua, trespassando o fogo, somos: LUZ!

Vander Vieira
Enviado por Vander Vieira em 06/04/2013
Reeditado em 15/04/2013
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