A última vez que vi Paris…

Estava mergulhada numa estranha tristeza

Mesclada com uma triste beleza

Num estado que alguém chamou

“Melancolia”

Porque não obstante todo o seu esplendor

Era uma cidade fria…

Despojada de contentamento

Despojada de alegria

Apesar de continuar a ser a mais bela entre as belas

A sua beleza

Era vazia…

Dado não existir o belo

Sem a emoção de o contemplar

O belo passa a ser um quadro inexpressivo

Que qualquer um

Pode copiar…

Vazia e Fria

Porque as suas gentes estavam ausentes

Ausentes pelo medo

Do ocaso

Do Continente…

E assim

A Cidade Luz

Era um farol

Que se arriscava nada poder iluminar

Porque os descendentes de quem a tinha erguido

Estavam perdidos

De tal ordem perdidos

Que nenhuma luz

Os poderia guiar…

Não era o prenúncio de uma morte anunciada

Porque a morte já tinha chegado

Pela mão de uma doença

Que punha em causa os fundamentos

De toda uma civilização

Uma doença que poderia ser vencida

Mas quem o devia fazer

Teimava

Em viver a contradição…

A contradição de ter escrito nas suas leis

Quem escreve nas suas pedras

Que um homem deve ser livre

Que um homem deve ser igual a outro homem

Enquanto letras bem pequenas

Como pequenas notas de rodapé invisíveis

Essas leis contrariavam

E por isso A Cidade das Cidades

Estava morta

Antes dos primeiros visíveis indícios

Estava morta

Porque tinham assassinado os seus princípios

Da Liberdade

Da Igualdade

Da Fraternidade *

Sendo que até tudo voltar a ser como foi

Não tive coragem de voltar a ela

E assim

Com este morticínio todo

Sou incapaz de voltar a ser feliz

E os olhos marejam

Cada vez que recordo

A última vez que vi Paris…

* Liberdade Igualdade Fraternidade – Princípios sobre os quais se baseou a Revolução Francesa que esteve na génese do nascimento das democracias modernas

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 15/03/2013
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