“A Oeste nada de novo…”
Disseste tu
Enquanto apontavas na direcção para a qual eu desejava seguir
“É uma terra de cinzas
Onde os sonhos que plantas ou nunca chegam a brotar
Ou se o chegam nascem mortos”
Olhei para os teus olhos
Bem no fundo deles
E soube
Que essa imagem sinistra era o que iria encontrar
Soube
Que apesar de quereres dizer o contrário
Não estavas a mentir…
Soube que partiste um dia para essa terra
Com sonhos e aspirações
Para depois de lá chegares
Notares que os teus projectos
Eram meras ilusões…
E tal como eu tinhas ouvido falar desse lugar
Na voz dos antigos
Que até nós conseguiram chegar
Voz que falava de uma terra onde todos eram livres
Onde nada predominava
Nem dominava
A não ser o livre pensamento
Terra
Onde o respeito por cada um
Mesmo que diferente
O respeito universal
Era o pensamento comum
Que todos dominava…
Mas essa terra morrera um dia
Contaste-me
Porque alguém achou que o pensamento deveria ser hierarquizado
Que primeiro teriam que ser ouvidas certas pessoas
E só depois as outras
Tendo que então criar uma série de leis
De regras
Que fizessem com que essa ordem fosse respeitada
Regras
Com rígidas obrigações
E foi por isso que criaram
Para os prevaricadores
Prisões…
Mas estes nem nessas se calavam
Se deixavam dominar
E fez-se então mais uma lei
Que os matava
Para que a sua voz não mais pudesse ser ouvida
E mais leis
Para que as suas palavras
Não fossem repetidas…
Foi então que chegou um homem novo aquela terra
E quis falar
Mas disseram-lhe
Que teria que ir para o fim de uma longa fila
Teria que esperar…
Ele não concordou
E seguiu o que fizera daquele local o que era
Sendo de imediato preso
Mas não conformado
Ele continuou a falar
E por isso seguiram as novas leis
E tiveram que o executar
Nesse dia aquela terra morreu
Aquela terra
Passou a ser mais uma
Uma terra vulgar
Onde o que a fizera
Alguém por decreto mandou matar
Sendo que a partir do momento que uma gota de sangue de um homem justo
Beijou o solo
Este ficou daninho
Ficou venenoso
Ficou hostil
Ficou radioactivo
Deixado levar pelo pensamento dos homens que se pensam donos da verdade
Donos do pensamento
E por isso quando lá chegaste
Soubeste que tinhas que partir
Para um qualquer outro lugar
A meio do qual
Lá calhou me encontrares
E lá calhou me prevenires
Me dizeres
Que seres como nós estavam condenados a partir
Ao encontro dessa terra
Certamente distante
Mas certamente que deveria existir
A terra onde toda a gente sonhasse sem entraves
Onde toda a gente
Apesar das suas dores
Andasse sempre a sorrir…