Digo-te…
Até amanhã
Sabendo
Mas não o querendo dizer
Que o amanhã pode estar longe demais
Pode estar à distância de horas
De dias ou de anos
Consoante pulsem os nossos sinais vitais…
Que tanto nos levam a concretizar o tempo na altura certa
Como nos levam a tal adiar
Altura em que o radar que nos assinala a necessidade um do outro
Volte a apitar…
Fumando enquanto falamos
O que pode ser um ritual de circunstância
Ou o último prazer que se dá a um condenado
Pela pena
De não te voltar a ter a meu lado…
E no entanto digo-te tal com desprendimento
De uma forma bem ligeira
Algo que entra em contradição com o que realmente estou a sentir
Que antevê as minhas intenções
Pois se tudo fosse e estivesse bem
Era desnecessário falar
Porque de forma natural
E nada formal
Nos iríamos encontrar…
E assim este cigarro
Esta conversa
Tem o peso de uma certa eternidade
Tem o peso de uma despedida
Tem o peso de uma ausência
Que mesmo antes de acontecer
Já começa a causar uma ferida
Que só passará
Quando
Perto ou longe
Tal palavra ser apenas mais uma inexpressiva
No meu dicionário de afectos
Quando ao pensar em ti
Possa pensar muitas coisas
Mas nunca mais
Como a minha mais desejada companhia…